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Por muito que nos custe admitir, na guerra da Ucrânia, só os ucranianos estão disponíveis para todos os sacrifícios. De facto, não têm opção. O resto do mundo, por muito que se esforce, é governado por um pragmatismo que, aplicado o teste do algodão, visto do lado ucraniano, mais parece hipocrisia.
Perante o que se viu em Bucha e pelo que se preanuncia noutras cidades, ter apenas 93 países a votar favoravelmente a suspensão da Rússia do Conselho dos Direitos Humanos da ONU o que nos revela é que há uma maioria de países que estão neste Conselho não por causa dos Direitos Humanos mas por causa da geopolítica dos negócios.
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O mundo falado em português não sai muito bem desta história, já que apenas Portugal e Timor votaram a favor desta resolução. Brasil, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Cabo Verde abstiveram-se. O voto de São Tomé não foi registado.
A China deixou cair a máscara e votou contra, mostrando uma vez mais de que lado está. Mas o chamado mundo ocidental, que esteve na linha da frente desta resolução, não precisa de se esforçar muito para chumbar no teste do algodão.
Mário Draghi pôs o dedo na ferida ao interpelar as opiniões públicas com uma pergunta que só pode deixar-nos desconfortáveis, porque é uma pergunta retórica. Sobre um possível embargo ao gás russo, pelo qual a União Europeia pagará neste mês de abril 20 mil milhões de euros, ajudando ao esforço de guerra de Moscovo, pergunta o primeiro-ministro italiano: Preferem a paz na Ucrânia ou o ar condicionado no Verão?
A pergunta é um murro no estômago, porque o politicamente correto nos obriga a optar pela paz, mas o que temos feito é optar pelo "gaz".