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"Devemos ouvir o que os eleitores nos querem dizer nas eleições Presidenciais", diz Daniel Oliveira, não apenas a mensagem que quem votou em André Ventura. Isto quando "a esmagadora maioria dos eleitores" - 88% - não votaram no líder do Chega, destaca o comentador no seu espaço habitual de opinião na Manhã TSF.
"Milhões de pessoas foram votar no meio de uma crise pandémica, com recordes mundiais de mortes diárias, esperando por vezes uma hora em filas. Disseram que acreditam na democracia. Se ao decidirmos o que queremos ouvir o que as pessoas nos disseram nas eleições ignorarmos 88% dos eleitores, elas vão começar a achar que a única forma de serem ouvidas é votar em alguma coisa que seja realmente chocante."
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A vitória na corrida a Belém coube Marcelo Rebelo de Sousa, com mais de 60% dos votos, o que, apesar de admitir que não ter sido a sua escolha nas urnas, leva Daniel Oliveira a afirmar que o que os portugueses quiseram manifestar é que "estão satisfeitos com o Presidente da República".
Então porque é que falamos tanto de um candidato que ficou em terceiro lugar com 12% dos votos? "Porque a sua votação muda a política portuguesa", diz Daniel Oliveira. Os votos em André Ventura "não são mais importantes, têm é mais consequências para o que vai acontecer na política nacional."
Sim, os candidatos apoiados pelo PCP e pelo Bloco de Esquerda "tiveram péssimos resultados", reconhece o comentador, mas porque o voto de muitos militantes de esquerda foi para Marcelo Rebelo de Sousa ou Ana Gomes, argumenta.
Apesar de o Bloco de Esquerda e o PCP terem saído "fragilizados" destas eleições, as sondagens que antecipam as intenções de voto as legislativas não dão a nenhum dos partidos um resultado muito diferente do que já tinham, nota. Para a esquerda, "as Presidenciais foram mesmo Presidenciais".
Acontece que Marcelo Rebelo de Sousa e Ana Gomes não vão liderar nenhum partido nas próximas eleições, ao contrário de André Ventura, líder de "um partido em ascensão" que "vai mudar a configuração na direita portuguesa".
É paradoxal: "os candidatos de direita tiveram enorme vitória, mas PSD e CDS tiverem uma enorme derrota, porque o voto em Marcelo foi o voto em Marcelo, mas o voto em Ventura foi o voto no Chega."
Quem tem a ganhar com tudo isto é António Costa: "Com a esquerda enfraquecida e a direita refém de um partido xenófobo, pode começar a ocupar o centro, enquanto dá o abraço de urso ao PCP e faz chantagem política com o Bloco de Esquerda".
Foi o que fez Emmanuel Macron em França, que agora "conta com o voto do mal menor contra a extrema-direita, porque conseguiu destruir quase tudo à sua volta".
Contudo, "é uma questão de tempo até as pessoas se fartarem do mal menor" e Marine Le Pen vencer em França, tal como pode acontecer com a extrema-direita em Portugal, alerta Daniel Oliveira. "É para este caminho que nos leva a oposição incompetente de Rui Rio e a política de terra queimada de aliados e adversários de António Costa", condena.
*Texto de Carolina Rico