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A reflexão que faço hoje é muito delicada, pois vivemos num país onde há um oportunista ao virar da esquina, pronto em aproveitar-se de uma tragédia, para misturar tudo, mentir, confundir, semear o medo e o ódio. Diria mesmo diabolizar, pois é esse o significado da palavra. Quem diaboliza é aquele que confunde, que separa. A origem vem da palavra grega "diabolos" que significa isso mesmo, separar.
Esta semana aconteceu uma tragédia que tirou a vida a Mariana Fadaugy e Farana Sadrudin. Ambas trabalhavam no Centro Ismaelita em Lisboa. Eram trabalhadoras humanitárias, na linha da frente cuidando de quem mais necessita.
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Estar na linha da frente do trabalho humanitário é, em Portugal, um trabalho de risco também e apesar de pensarmos que esses riscos só acontecem em países com conflitos ou onde ONG e imprensa são perseguidos devido ao seu trabalho independente. Em Portugal também há riscos. O terceiro setor é suborçamentado na maior parte dos casos de ONG, Associações e IPSS. Os trabalhadores humanitários recebem salários baixos, com horários de trabalho muito díspares uma vez que desenvolvem serviço onde as necessidades não se coadunam com esperar ou com horários de trabalho e dias de descanso.
Esta tragédia foi causada por um crime e nada retira a responsabilidade ao autor que terá de se apresentar à Justiça a quem caberá definir a punição adequada e a reparação possível das famílias das vítimas, bem como os processos de reinserção social.
Em Portugal ninguém procurou desresponsabilizar o autor do crime como um líder político oportunista disse, mentindo, tentando separar e confundir para colher dividendos e ganhos políticos disso.
Em Portugal, tentámos compreender o inexplicável e essa tentativa de compreender enche-me de orgulho no meu país, porque tentar compreender é uma das formais mais úteis para podermos tentar prevenir o mal de acontecer.
Nada justifica este crime e se um português comete um crime, isso não faz de todos os portugueses criminosos. Da mesma maneira, um homem alto, moreno e de cabelo amarelo às pintas azuis que cometa um crime, não faz com que todos os homens com as mesmas características sejam criminosos.
Será que estes políticos populistas e mentirosos que nos tentam enganar, nos tomam a todos por parvos?
Em outubro de 2020 a Amnistia Internacional publicou um trabalho onde referiu as necessidades de saúde mental dos refugiados, muitos dos quais sobreviveram a terríveis dificuldades e que podem ser significativamente diferentes daquelas do resto da população.
Muitos refugiados enfrentam ainda racismo, hostilidade, pobreza e desemprego nos países de acolhimento. Em Portugal enfrentam ainda infernos burocráticos para regularizar a sua documentação, escassez de meios para aprender a língua, falta de tradutores e respostas de esperança e agilidade para com as suas situações.
A maioria dos refugiados no mundo vive em países com rendimentos baixos ou médios e o financiamento para a saúde mental varia entre 1 e 50 cêntimos por pessoa ao mês.
O investimento para proteger quem protege, é ainda mais baixo. Pensemos nisto e no tanto que podíamos fazer para que estas tragédias não acontecessem mais.
