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Discutir a nacionalização do Novo Banco é discutir o nosso grau de tolerância ao risco. Quanto podemos pagar? E durante quanto tempo? Ou seja: Que nacionalização queremos?
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Por um lado, o que se adivinha é a continuação dos prejuízos durante pelo menos mais três anos - é essa a expectativa do presidente Stock da Cunha. E isso, num cenário de inclusão do NB na esfera do Estado, significa provavelmente injetar capital público nesse período - como já tantas vezes vimos acontecer com a Caixa Geral de Depósitos. A opção implica mais défice, mais défice implica mais dívida, e mais dívida leva a menor disponibilidade financeira do Estado para exercer as suas funções - e, no fim da linha, a mais impostos.
Por outro lado, há o risco adicional de, após tudo isto, ninguém querer comprar o Novo Banco por um preço razoável - tal como aconteceu no primeiro processo de venda. Entretanto, o Banco de Portugal ordenou a transferência de 2 mil milhões de euros de obrigações do NB para o BES mau, para reforçar os rácios de capital com o objetivo de facilitar a venda, mas não é certo que isso, só por si, garanta o sucesso da operação.
Temos, portanto, de decidir se estamos a falar de uma nacionalização definitiva ou temporária (que significaria prolongar, num formato diferente do atual, a situação que o banco vive).
Se for definitiva, poderemos ter de esperar muitos anos até que esse negócio se transforme num sucesso. Até lá, que não haja enganos: direta ou indiretamente, seremos nós - cidadãos, empresas - a compensar os prejuízos do banco. Ainda que formalmente estejamos a falar de empréstimos de dinheiros públicos ao Fundo de Resolução (o sistema bancário nacional, ainda muito fragilizado, não terá capacidade garantir, sozinho, a sobrevivência do NB), mesmo que no fim do horizonte esteja uma devolução desses créditos, o mais certo é que demoremos muito tempo a lá chegar. E como será feito esse caminho? Ficaremos com dois bancos públicos? Integramos o NB na Caixa, que de resto também passa por dificuldades?
Se a nacionalização for temporária (com vista a uma venda posterior), existe o risco de, no fim da linha, o Estado ser obrigado, por falta de alternativa, a entregá-lo a preço de saldos.
Qualquer destas opções pode muito bem não ter um final feliz. Ninguém fez uma oferta aceitável pelo Novo Banco até agora, e isso, não sendo uma surpresa - o NB teve 1,5 mil milhões de euros de prejuízo em um ano e meio de existência - devia fazer-nos franzir o sobrolho. E nada nos garante que o falhanço não vai repetir-se - mesmo com o reforço de capital, mesmo com o despedimento coletivo entretanto anunciado.