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Certas palavras e expressões assumiram protagonismo com o surgimento da pandemia, outras tomaram novos significados por adequação às circunstâncias, muitas convocaram memórias passadas, aparentemente olvidadas, mas que se revitalizaram por força de um presente que se procura ultrapassar.
Confinamento, assintomático, distanciamento social, ajuntamento, estado de calamidade e de emergência, equipamento de proteção individual, grupo de risco, quarentena, transmissão comunitária, triagem, máscara, vírus e vacina foram alguns dos vocábulos mais usadas nos últimos meses, integrando o léxico diário de todos os portugueses.
O termo "bolha" foi por demais utilizado e, na prática, dos continuamente infringidas nas variadas formas e feitios.
Enquanto nas escolas a matriz de risco tem sido muito apertada - não obstante a testagem em massa e a vacinação dos professores e pessoal não docente - na sociedade assiste-se ao desrespeito pelas normas da Direção Geral da Saúde (DGS), não só traduzidas nos festejos desportivos (mesmo com proibição de assistência aos jogos), como também pelos ajuntamentos promovidos por grupos que confraternizam livremente, registando em imagens ou vídeos atos de uma insensatez e desamor pelo próximo.
E é no que ao desporto (ou falta dele) diz respeito que as ambiguidades de atuação dos responsáveis do nosso país ressaltam - a autorização de espetadores na última jornada da 1.ª Liga foi um dito por não dito (!), a falta de planeamento de eventos merecedores de outra atenção (Liga dos Campeões), o péssimo exemplo proveniente das atitudes (tele)visionadas (comportamento dos adeptos ingleses na cidade do Porto, ajuntamentos no Bairro Alto...), entre outros fatores - e levam-me, ainda mais, a enaltecer o trabalho de excelência efetuado nas escolas.
Inquestionavelmente, os (maus) exemplos deixam os mais jovens confusos, pois convocam forçosamente o provérbio "olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço", nada aconselhável quando se pretende transmitir às nossas crianças e adolescentes valores e princípios para a qualidade e preservação da vida... de todos!
A sociedade teima em dificultar o trabalho (na) da escola, pouco solidária e antagonista com o compromisso dos professores e restantes agentes educativos, embora as regras e os procedimentos adotados devido à pandemia se encontrem a ser observados, e até reforçados, no interior dos estabelecimentos de ensino.
Alguns eventos em que a "bola" é rainha tendem a gerar indesejada desregulação, atirando para as calendas gregas o desejado regresso à normalidade, dado a nescidade de muitos - seres humanos(?!) - comprometer o bem-estar e segurança da maioria dos cidadãos.
A existência em sociedade obriga-nos a olhar menos para o nosso umbigo, restringindo a adoção de comportamentos que coloquem em perigo o nosso próximo, o que nem sempre sucede.
Numa posição diametralmente oposta encontram-se as escolas e, por isso, considero que a matriz de risco no que lhe é inerente deverá ser revista. Encerrar escolas, enviar turmas e professores para casa, presentemente, salvo melhor opinião, é colocar em jogo (perdido à partida) o futuro dos nossos jovens, revelando excesso de zelo, bastando para tal a testagem positiva de um elemento (alunos, professor...).
A contradição de atitudes da DGS, não explicada, é ininteligível para o senso comum, carente de motivos plausíveis.