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A presente transcrição desta comunicação telefónica, querendo, pode ser incluída nos documentos afetos aos trabalhos da Comissão de Inquérito à Gestão Política da TAP.
26 de Abril
A Chefe de Gabinete E telefona ao agente X
(não será designado o nome do agente, por óbvias razões de segurança e de proteção do SIS)
Quando toca, no visor do telefone do agente X aparece: «E PM»
- Boa noite, E. Como estás? Há quanto tempo!
- Boa noite, X. Não muito bem, tenho aqui uma situação e preciso da tua ajuda.
- Que se passa?
- Um tipo aqui do ministério que foi exonerado esta noite, veio cá e levou com ele o computador portátil do ministério. Eu ainda tentei impedi-lo, mas fui agredida...
- ... a sério? Como assim, agredida?
- ... tentei segurar a mochila dele com o portátil e levei uns empurrões, mas pronto... o que eu queria era que me ajudasses a recuperar o computador.
- Mas o computador tem informação sensível?
- Tem, tem uns documentos que tivemos de classificar antes de enviar para a CPI da TAP e tem o plano de reestruturação da TAP. Além disso, o computador já não é dele, é nosso, e ele já não trabalha aqui.
- Percebo. Mas ele roubou o computador?
- A minha opinião, sim. Veio cá buscá-lo quando estava exonerado...
- ... mas foi roubo?
- ... quer dizer, roubo roubo não, mas levou daqui uma coisa à qual já não devia ter acesso e tem. Anda lá fora informação que devia estar cá dentro...
- Bem... deixa ver se consigo ajudar. Dá-me o número dele e eu dou-lhe um apertão à moda antiga! Daqui a pouco já tens o portátil.
- Fazes-me isso? Isto aqui está uma confusão com isto. Está cá a PSP, o ministro também está a ligar ao PM e aos colegas do governo, nem imaginas o caos esta noite. Se pudesses ajudar, ficava-te muito grata. Queria resolver isto o mais depressa possível, sabes como é, depois é a mim que vão perguntar como é que isto aconteceu...
- Fica descansada. Ligo já ao gajo. Vou entrar de mansinho e calmo a ver se a coisa se faz a bem. Se não, depois logo se vê.
Obrigada, X. Fico a dever-te uma, e das grandes.
- Ora essa, Eustásia. Era só o que faltava. Eu já te digo alguma coisa.
- Até já. Muito obrigada.
Enquanto E, a chefe de gabinete tentava resolver o tema da forma mais rápida e ágil possível, já o Ministro não tinha tanta sorte. Ligara ao Primeiro-ministro. Mas ele não atendeu. (Mais tarde, o PM confirmou essa chamada, mas como ia a conduzir, não atendeu. Também confirmou que a mulher, que viajava ao lado, viu quem estava a ligar, mas o PM entendeu que não valia a pena atender). Depois ligou ao Secretário de Estado adjunto, que atendeu, e tinha ao lado outro secretário de Estado. Segundo declarações do ministro, foi-lhe sugerido nesta conversa que acionasse o SIS. (Mais tarde, o PM viria negar que ele ou qualquer outro membro do seu gabinete, Secretário de Estado incluído, tivesse feito qualquer sugestão para que o SIS fosse contactado ou que tivesse dado qualquer instrução para esse contacto).
Quando o ministro teve tempo, voltou a falar com a chefe de gabinete E. Disse-lhe que lhe tinham sugerido acionar o SIS.
- Já fim isso, senhor ministro. Conheço lá algumas pessoas, dos tempos em que estive na PCM e liguei ao agente X. Ele vai ligar ao Frederico e ver se o convence a entregar o portátil o mais depressa possível. Ficou de me dizer alguma coisa, entretanto.
Por esta altura, o agente X liga ao adjunto exonerado.
- Está lá? Dr. F? Daqui fala o agente X, do SIS.
AVISO: Esta é uma história de ficção. Qualquer semelhança com a realidade, nomeadamente nomes, datas e factos, terá sido pura coincidência.
