"Legislar sobre estes temas em vésperas de eleições dá sempre asneira." Daniel Oliveira defende que é difícil estabelecer limites no caso das ligações familiares.
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Daniel Oliveira acredita que Rui Rio tem razão quando diz que não se deve legislar sobre o tema das relações familiares no Governo em tempo de campanha eleitoral, mas não deixa de recordar e apontar o dedo em relação à postura do líder do PSD no caso da nomeação da irmã de Álvaro Castello-Branco, quando era autarca no Porto.
No espaço de comentário semanal na TSF, "A Opinião", o jornalista começou por revelar que "quando António Costa propôs que se mudasse a lei para controlar a nomeação de familiares no seu próprio Governo, queria apenas que o debate sobre os casos concretos fosse substituído por um debate mais abstrato e menos nocivo para o PS".
A atitude do primeiro-ministro não merece as críticas de Daniel Oliveira, porém a direita também está "coberta de telhados de vidro", realça. "A direita transformou as famílias em tema para ver se a redução dos preços dos passes sociais saída dos jornais e das televisões", refere, esclarecendo que "a política vive deste jogo pela conquista da agenda mediática".
Daniel Oliveira também não censura a posição do Presidente da República relativamente ao caso das ligações familiares, ao contrário da exigência para legislar sobre o tema até às eleições.
"Quando Marcelo Rebelo de Sousa mandou saber pela imprensa que tinha exigido a Costa que os familiares saíssem dos gabinetes estava apenas a fazer-se notado", defende o comentador, tendo em conta que "o seu poder depende desta perceção de que manda e é obedecido". Contudo, Daniel Oliveira critica "a exigência para se legislar sobre este assunto até às eleições".
Recordando as declarações de Rui Rio, o jornalista sublinha que "legislar sobre isto de forma equilibrada é quase impossível, a começar pelos limites".
"Onde acaba a relação política funcional? É só nos gabinetes dos ministros, é que muitas das notícias foram bem para lá deste círculo. Só conta o parentesco entre quem nomeia e quem é nomeado? E como se prevê as variantes possíveis de trocas de favores? E onde acaba o grau de parentesco? Fala-se em alargar os limites até aos primos, eu pergunto-me como será a política autárquica em concelhos com três mil habitantes ou menos", questiona Daniel Oliveira.
O comentador acredita que o líder do PSD deixou um "apelo mais relevante: legislar sobre estes temas em vésperas de eleições dá sempre asneira", já que "a lei passa a ser uma bandeirinha demagógica de campanha, sem conta, peso e medida".
Mas os tais telhados de vidro estão também no líder do PSD. "Infelizmente, Rui Rio não resistiu ao seu momento demagógico dizendo que este problema resulta de uma cultura muito própria do PS. Os arquivos são tramados. Numa busca rápida encontramos uma velha polémica quando Rui Rio nomeou para vice-presidente da CulturPorto a irmã de Álvaro Castello-Branco, líder do CDS e presidente da Assembleia Municipal e voltou a nomeá-la três anos depois para a administração do Rivoli já o parceiro de coligação era vice-presidente da autarquia. O incómodo com esta troca de favores foi grande, sobretudo porque a senhora era uma engenheira alimentar sem qualquer experiência na área", aponta.
Como tal, e "apesar de Rui Rio ser mais uma de muitas virgens esquecidas", Daniel Oliveira atribui-lhe "razão no essencial: não é boa ideia legislar sobre estes assuntos no meio de uma campanha eleitoral".
Texto: Inês André de Figueiredo