Corpo do artigo
Daniel Oliveira afirma que a Rússia pode ser travada, mas nunca derrotada, nesta guerra na Ucrânia, porque dispõe de armamento nuclear. No espaço de comentário que ocupa semanalmente na TSF, o jornalista afirma que, mesmo que se consiga terminar o conflito com uma negociação de paz, ela nunca será justa e o mundo continuará a ter um problema adiado: Vladimir Putin.
A guerra na Ucrânia "dificilmente acabará com um vencedor definitivo", contribuindo para isso "a perseverante resistência ucraniana armada pelo Ocidente" e "muito mais determinada do que era esperado pela Rússia", defende.
Para Daniel Oliveira, é claro que "se a Rússia tentar ocupar a Ucrânia de forma permanente, precisará de um contingente militar muito superior àquele de que dispõe e terá de viver com uma insurgência contínua durante anos, com muitas baixas e custos que não pode suportar", uma vez que "não tem economia e capacidade militar para tanto". Mas é também claro que Putin "não tem qualquer hipótese de instalar um 'Governo fantoche' como o da Bielorrússia", já que, "com os ucranianos armados e a resistir, também precisaria de uma ocupação militar para o garantir".
TSF\audio\2022\03\noticias\15\15_marco_2022_a_opiniao_de_daniel_oliveira_quanto_se_sofrera_ate_uma_paz_injusta
O comentador antevê que uma guerra prolongada levará ao "aprofundamento da crise energética na Europa" e de uma "perigosa crise alimentar em todo o mundo, pela importância que a Ucrânia e a Rússia têm no mercado dos cereais". Nessa altura, nota Daniel Oliveira, a opinião pública e os governos "começarão a perguntar-se até onde estão dispostos a ir".
"Quando isso acontecer, o apoio à Ucrânia pode esmorecer, mesmo entre muitos que hoje o vivem intensamente. Vamos chegar a um momento -- e pode não ser exatamente o mesmo momento para todos -- em que cada um, Ucrânia, Rússia e Europa com Estados Unidos, chegarão ao seu limite de resistência", diz. Quando o limite de um deles for ultrapassado, estará aberto o caminho para a verdadeira negociação.
"Como a vitória definitiva da Rússia é improvável, e a Ucrânia apenas poderá resistir, imagina-se que a negociação -- quando e se chegar a acontecer -- poderá andar em torno do reconhecimento da independência ou da autonomia das duas repúblicas do Donbass, o reconhecimento da Crimeia como território russo e a garantia da não-adesão da Ucrânia à NATO e garantias de segurança da própria Ucrânia no futuro", aponta o jornalista. E mesmo essa negociação será "tremendamente difícil".
"Perante uma invasão ilegal e imoral, nenhum acordo que não corresponda a uma derrota da Rússia resultará numa solução justa", declara Daniel Oliveira.
Considerando a hipótese alternativa de recusar qualquer negociação e levar a guerra "para além do seu limite", o comentador recorda àqueles que comparam a situação atual da Rússia à da resistência da Alemanha nazi que o mundo mudou e, agora, está em causa um país que não pode ser derrotado, apenas travado. É que, "ao contrário da Alemanha dos anos 40, [a Rússia] tem armamento nuclear".
Assim, conclui Daniel Oliveira, "o pior que pode acontecer à Rússia é ficar a sofrer interminavelmente na Ucrânia, com baixas para o seu povo e uma profunda crise económica que, mais tarde ou mais cedo, dará origem a uma crise política". Por outro lado, "o melhor que lhe poderia acontecer" era que esse processo resultasse "na queda de Putin". "Mas para a guerra acabar antes disso, haverá um momento em que as partes terão de negociar a paz possível. Provavelmente, uma paz injusta. Se isso acontecer, salvando muitas vidas ucranianas e russas, e livrando o mundo do caos, não deixaremos de ter um problema adiado: chama-se Vladimir Putin."
Texto: Rita Carvalho Pereira