Corpo do artigo
As greves dos professores é, inevitavelmente, um dos temas quentes do momento, tendo recrudescido no arranque do ano civil, início do 2.º período letivo para uns e final do 1.º semestre para outros, de uma forma ainda mais forte que aquela ocorrida a partir do dia 9 de dezembro.
Por um lado aumentou o número de forças sindicais que entraram na contenda; por outro, alargaram-se e diversificaram-se as formas de protesto, continuando a ser por tempo indeterminado e prevalecendo a atipicidade das mesmas.
Neste estado de coisas, outras singularidades saltam à vista: a desunião sindical contribuiu, a meu ver, para o estreitar de laços entre os professores, constatando-se o contrário daquilo que até há bem pouco tempo se ouvia dizer: "a classe docente é desunida".
O mal explicado ou mal compreendido novo modelo de colocação de professores foi o mote para quebrar a aparente acalmia que se sentia na Educação, pese embora as duas greves convocadas em novembro, despoletando ocorrências inusitados, para surpresa geral.
Na verdade, os problemas que afetam os docentes não surgiram no último mês do ano, tendo-os já exposto sobejamente em diversos fóruns e periódicos, onde reitero a necessidade de se proceder a um debate sério, que conduza à emissão das resoluções que se exigem, tendo em conta: a perda de 6 anos 6 meses e 23 dias; a alteração ao modelo de avaliação (dos docentes e dos diretores), eliminando também a barreira artificial de acesso aos 5.º e 7.º escalões; a escassa remuneração auferida pelos professores, considerando a responsabilidade e a importância inerentes à sua profissão; ausência de apoios na deslocação e estadia para professores que trabalham a dezenas/centenas de quilómetros de suas casas; número excessivo de horas (para além das 35h) de trabalho semanal que efetivamente é realizado por um professor, sem qualquer contrapartida, para além do trabalho que leva para casa, tarefas burocráticas, entre outro.
Urge que estas e outras questões fulcrais constem da ordem de trabalhos de uma reunião entre a tutela e os sindicatos, porém assistida e participada pelo ministério das Finanças. Percebe-se claramente a necessidade imperiosa de se investir mais na Educação e, concretamente, nos recursos humanos, tornando a profissão atrativa, característica que se foi perdendo de há uns anos a esta parte.
O constrangimento "escassez de professores" não desapareceu; aumentou de forma exponencial, não sendo tema dos media nos últimos tempos, pois outras notícias o destronaram, podendo as negociações, quiçá, favorecer o seu solucionamento.
É crucial o diálogo, sem sobranceria, e com o fito na melhoria da qualidade da Escola Pública, baluarte indispensável para o progresso de qualquer país que persegue a modernidade, a capacitação e o bem-estar dos seus cidadãos.
Portugal merece!