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A forma confrangedora como o ministro João Galamba pareceu procurar no baú das memórias a informação que lhe permitia dizer a verdade sobre o seu envolvimento no episódio do SIS na recuperação do computador é reveladora do buraco onde o governo se meteu ao usar as secretas a seu belo prazer. "Não me... não me recordo, senhor deputado. He... aliás... não...não me recordo".
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Dan Ariely, no livro "A ciência do engano", diz que "aquele que mente precisa de memória e frieza emocional". Olhando para Galamba, na CPI, percebemos que a frieza foi trabalhada e a memória ficou selectiva. O ministro que ligou a toda a gente, primeiro-ministro incluído, PSP e PJ, só não ligou a quem lhe mandaram ligar, ao SIS. Essa chamada foi feita pela zelosa chefe de gabinete que lê os pensamentos do seu ministro e lhe antecipa as vontades. De tal forma que o ministro perdeu o rasto da actuação das secretas e transformou em segredo o que sobre elas ouviu. Até que nos confessou que foi do gabinete de António Costa que lhe mandaram ligar ao SIS.
O Presidente Marcelo, na comunicação que fez ao país, lembrou que os serviços de informação estão ao serviço do Estado e não ao serviço do governo, mas o que temos visto não é isso.
Sobre a urgência em recuperar o computador, é agora muito evidente que para João Galamba o que havia de mais importante eram as notas da reunião do dia 16, as que provam que nos tentou enganar quando nos disse que a reunião de 17 aconteceu a pedido da ex-CEO da TAP. O ministro foi obrigado a falar da primeira reunião porque o seu ex-adjunto já a tinha tornado publica no dia anterior.
Aquele que mente precisa de memória e frieza emocional. Quem estará a mentir?