Daniel Oliveira tece críticas aos mais recentes 'reality shows' da SIC e da TVI, que diz serem "um triste retrato de um país que ainda vive a meio do século passado".
Corpo do artigo
Começando por recordar o tema em destaque da última semana - a condenação dos acórdãos misóginos do juiz Neto de Moura -, Daniel Oliveira nota que a semana terminou com uma das "maiores manifestações feministas de sempre". O jornalista diz que a opinião pública parecia concertada sobre o fim da violência contra as mulheres, a partilha de tarefas em casa, as carreiras e tudo o que ainda está por fazer pelos direitos do género feminino.
"Entrámos no fim de semana convencidos de que caminhávamos para a Escandinávia. Mas, no sábado, regressámos a Portugal", declara Daniel Oliveira, no espaço de comentário que ocupa na TSF, aludindo à transmissão dos dois novos programas televisivos "Quem quer casar com o agricultor?", da SIC, e "Quem quer casar com o meu filho?", da TVI.
O comentador ironiza que "as televisões generalistas privadas têm-se dedicado à nobre tarefa de casamenteiras", o que, para Daniel Oliveira, não constitui, por si, um problema. "Até aqui tudo bem. Vamos crer que não há ninguém suficientemente idiota para acreditar que aquilo é mesmo a sério e que a felicidade se ganha em concursos", diz.
Para o jornalista, o que incomoda são as máximas transmitidas por estes programas, sendo que o entretenimento constitui-se como "um poderoso transmissor de valores".
TSF\audio\2019\03\noticias\12\12_marco_2019_a_opiniao_de_daniel_oliveira
"Enquanto os rapazinhos se babam para os decotes das candidatas, as severas mães inspecionam-lhe os dotes domésticos. Só querem saber uma coisa: se as meninas sabem cozinhar, porque o seu tesouro é rapaz de alimento", constata.
Daniel Oliveira considera que o programa da TVI explora "um filão centenário: o de que a mulher é substituta da mãe, feita para cuidar e alimentar os varões, enquanto o marido é substituto do pai, pronto para proteger e sustentar as donzelas. Nunca serão companheiros paritários, prontos para se cuidarem, protegerem e sustentarem mutuamente".
"Os valores que [o programa] promove ajudam a explicar alguns números de que falámos na semana passada ", aponta. "É um triste retrato de um país que ainda vive a meio do século passado."
Texto: Rita Carvalho Pereira