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A resposta à pergunta que faz título desta crónica tem que começar por ser: o próprio. Mas dizer apenas isto é ficar muito longe de uma resposta que possa satisfazer até os menos exigentes. Temos de seguir a sugestão de Marcelo Rebelo de Sousa e começar pela pré-história. Vamos situá-la, não no momento em que Pedro Nuno Santos conspirou para tirar António José Seguro da liderança, oferecendo-a a António Costa, mas um pouco mais à frente, no momento em que o agora ex-ministro galvaniza um congresso socialista com um discurso à esquerda e obriga Costa a avisar que ainda não tinha metido os papéis para a reforma.
Depois disso, Pedro Nuno Santos foi promovido a ministro com uma pasta muito importante, um paradoxo para uma relação que ganhava fama de ser feita entre um líder que não gostava de quem estava na linha da frente para lhe suceder. No entretanto, a Geringonça estava a morrer e a importância política de Pedro Nuno Santos no governo a diminuir. Chega a maioria absoluta e nada muda nesta relação, até ao célebre episódio do despacho do ministro revogado pelo primeiro-ministro.
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Acompanhe-me numa curta viagem que começa na desautorização de António Costa a Pedro Nuno Santos com a manutenção deste no governo a troco de um humilhante perdoa-me em frente às câmaras. Mais recentemente, o mesmo primeiro-ministro, que tinha visto uma ministra da Saúde demitir-se de madrugada, na sequência de uma crise das urgências em que uma mulher grávida morreu numa viagem entre hospitais, considerou que o único caso grave do seu governo, entre casos e casinhos, tinha sido o despacho de Pedro Nuno Santos.
No caso de Alexandra Reis, António Costa obrigou - e bem - Fernando Medina e Pedro Nuno Santos a resolverem o caso os dois juntos. Isso aconteceu no pedido feito à TAP para enquadrar juridicamente a decisão de indemnizar Alexandra Reis, aconteceu igualmente no envio dessa informação para a IGF e CMVM, mas na hora de despedir a secretária de Estado nada é dito a Pedro Nuno Santos, que fica sozinho no meio da ponte, enquanto o ministro das Finanças afirma que nada sabia sobre o que se passou.
Perante tudo isto, o primeiro-ministro faz saber que não via necessidade de Pedro Nuno Santos sair do Governo. E o país pergunta: como não? Para que quererá o chefe do Governo um ministro fragilizado politicamente com a tutela da TAP, dos caminhos-de-ferro, das estradas, da habitação... Este país é muito difícil de entender!