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A previsibilidade é um dado importante para todos os agentes económicos. Planear, gerir stocks, compras e vendas, prospectivar exportações, desenhar mapas de disponibilidade de mão de obra em teletrabalho e presencial, etc. Para tudo isto, um cronograma é uma ferramenta importante de gestão. Ter um calendário de desconfinamento não é tudo, mas vem dar uma boa ajuda.
O primeiro-ministro anunciou, esta semana, um plano de desconfinamento "a conta-gotas" que vai de 15 de março a 3 de maio. Vários especialistas da área da saúde criticam com o argumento de que são "muitas gotas" face à persistente pandemia e aos sinais externos, vindos de vários países da Europa.
A França, por exemplo, voltou a atingir um novo pico de contágios e a Itália anunciou mesmo um novo confinamento, que obriga a fechar, outra vez, os restaurantes e esplanadas, devido ao colapso nos hospitais. A Itália já ultrapassou um total de 100 mil mortes.
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Por cá, devemos estar preparados para a alteração das datas anunciadas caso o Rt (ou seja, o índice de transmissibilidade) volte a subir. Esse risco é claro e deve estar presente em todos os nossos atos e comportamentos.
Ainda assim, é preciso iniciar a reabertura e começar por algum lado. O pequeno comércio dá já o primeiro passo de desconfinamento na segunda-feira. Vários empreendedores e famílias inteiras que dependem de pequenos negócios, como um café ou um cabeleireiro, voltam a respirar.
Dito isto, não há ilusões: não ficam para trás, e muito menos ficam sanadas, todas as dificuldades e todas as dívidas acumuladas. Mas estes portugueses voltam a respirar e a sentir que vale acreditar no futuro.
Reabrir o país, ainda que lentamente, é tão importante para as famílias como para as empresas. O regresso das crianças mais pequenas à creche, ao ensino pré-escolar e ao primeiro ciclo permite uma melhor organização das tarefas laborais.
Para as empresas, sobretudo o pequeno comércio e os serviços, reabre-se uma porta ou um postigo de esperança, uma janela de faturação.
Estes sectores de atividade estão preocupados e com razão. Não basta reabrir é preciso que os clientes apareçam... Vão aparecer, certamente, afinal o cansaço deste segundo confinamento é grande e uma reabertura é bem-vinda.
O bom senso, a máscara na cara, o desinfetante nas mãos e o distanciamento ditarão como será o futuro. Mas também a testagem, o rastreio e a capacidade de vacinação serão decisivos. É nisso que o governo tem de apostar. Não haverá complacência se nesta Páscoa voltarmos a viver um novo Natal.