Corpo do artigo
Segundo notícia da passada semana, do Serviço Português da Rádio Voz da América (VOA-português), regista-se uma nova abordagem por parte dos grupos terrorista de cariz islâmico em África. Os recrutadores já não "bombardeiam os mancebos" com ideologia e as recompensas do Paraíso, mas com uma "carreira militar de virtude" remunerada! Isso mesmo, integrar as fileiras de um qualquer afiliado da Al-Qaeda do Magrebe Islâmico (AQMI), ou do Estado Islâmico, garante-lhes um pré, tal qual como nos foi garantido/pago nos tempos do Serviço Militar Obrigatório.
A mesma notícia refere um inquérito feito pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), em 2021, juntos desta "tropa fandanga", entrevistando 2.200 destes virtuosos no Burkina Faso, Camarões, Chade, Mali, Níger, Nigéria, Somália e Sudão. "As entrevistas incluíram quase 1200 antigos membros de grupos extremistas, dos quais cerca de 900 tinham aderido voluntariamente enquanto os outros tinham sido coagidos. Dos que tinham aderido voluntariamente, um quarto disse que a perspectiva de trabalho remunerado tinha sido o seu principal motivo, disse o PNUD num relatório. Isto marca um aumento de 92% para essa justificação, em comparação com o seu relatório anterior sobre a questão em 2017 (...) Outros 22% disseram que se juntaram para estar com a família ou amigos. Mas as motivações religiosas ficaram em terceiro lugar, citadas por apenas 17% como a principal razão para se juntarem àqueles grupos". Mais, numa aparente contradição ao descrito, "quase metade dos inquiridos citou um evento específico que também os levou a aderir - 71% apontou um abuso, muitas vezes por parte das forças de segurança do Estado, como o ponto de viragem". Este importante detalhe vai precisamente ao encontro da criação crescente de um sentimento generalizado antifrancês, que teve como resultado a decisão destes (dos franceses), em darem por finda a Operação Barkhane, principal contingente estrangeiro com base no Mali. A acção conjunta destes com as FAMA, a Forças Armadas do Mali, teve como resultado essa repulsa anticolonial e anti sul, junto das populações do centro e do norte do Mali, generalizada depois para toda a região. Este foi o catalisador do "pavio da indignação" que rapidamente provocou a "explosão dos golpes militares", no Mali em Agosto de 2020 e no Burkina em Janeiro de 2021. Ou seja, os militares locais capitalizaram o efeito provocado pelos os próprios erros, lado-a-lado com uma população que se virou cada vez mais contra os franceses, "a cavalo" das ambições de uma nova geração de coronéis e tenentes-coronéis.
O relatório citado refere "um novo engodo" com âncora no pagamento de um pré, mas não refere quem financia, certamente para não melindrar qualquer "potencia petroleira" em tempos de guerra, que também obrigam a uma nova geoestratégia e geopolítica energética. Resta-nos sermos criativos e regressarmos de novo aos suspeitos do costume!
A Acontecer/A Acompanhar
- 14 de Fevereiro, Exposição "O Tempo das Imagens IV", edições recentes do Centro Português de Serigrafia, às 17h na Biblioteca Nacional em Lisboa.
Raúl M. Braga Pires, Politólogo/Arabista, é autor do site www.maghreb-machrek.pt (em reparação) e escreve de acordo com a antiga ortografia.
