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Há 28 anos, em Maio, casaram Duarte e Isabel, ele Pio de Bragança e ela Herédia. Amanhã casa a filha deles, Maria Francisca de Bragança. Dizem-na infanta, e talvez por isso, para mostrar que tem estatuto que compara com a realeza, o noivo é apresentado nos jornais, não apenas nas revistas cor-de-rosa, como sendo Duarte Maria de Sousa Araújo Martins. Não apenas nome próprio e último nome, como alguns dos ilustres convidados de que falam as mesmas notícias, o Costa que é António e primeiro-ministro, e nem vai à boda porque tem trabalho para fazer, ou o Silva que é Cavaco e não vai faltar depois de ter estado presente como chefe do governo na boda de Dom Duarte Pio, o legitimo herdeiro de um trono que não existe porque a República se fez exatamente para que todos nasçam iguais. Ainda assim, os duques de Bragança, tratemos-los desta forma já que essa é a vontade dos monárquicos, estão integrados na lista do protocolo presidencial, mas sem direito de precedência. Ouviu bem, a República, no tempo de Soares, "amonarquizou" e reconhece a existência da realeza.
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Sem rigorosamente ironia nenhuma, faço votos que o casamento da Francisca e do Duarte corra bem, dure muitos anos e que os dois sejam felizes. Esta crónica não é sobre eles, mas sobre os republicanos que se abotoam para celebrar o 5 de Outubro e vão, dois dias depois, pelos cargos que ocupam ou ocuparam na dita República, celebrar a pretensão de uma família ter o direito divino de passar a chefia do Estado de geração em geração.
Na verdade, todo o político tem o secreto desejo de fazer parte do reality show e como está garantida a transmissão televisiva em canal aberto, mais vale aparecer para não esquecer. Percebo esta parte, o entretenimento ganha em ter a realeza que vem de fora, mais os condes e os barões que temos por cá esquecidos, o povo que quer espreitar in loco e o povo que vai ficar colado ao ecrã. Mas se não estivessem lá o Marcelo e o Moedas era como estar em Lisboa em agosto e não os ver junto ao Papa. Ainda ontem estavam os dois disfarçados de representantes da República Portuguesa (nome oficial de Portugal) na celebração do 5 de Outubro e amanhã já estão a celebrar atendendo ao protocolo monárquico. Viva a República.