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O diretor do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação descreveu os recentes Pandora Papers como sendo os Panama Papers com esteroides. Trata-se, portanto, de uma coleção de documentos bem maior do que a anterior, denunciando o uso de contas offshore por políticos no ativo, ex-políticos, figuras públicas, traficantes, mafiosos...
O facto de entre os Panama e os Pandora não ter acontecido nada de relevante para atenuar os efeitos da existência de paraísos fiscais, bem pelo contrário, como demonstra a tranquila passagem de muitos clientes da Mossack Fonseca para a Alcogal, os escritórios estrela das duas histórias, mostra que tudo segue como antes no quartel-general em Abrantes. O mais que podemos esperar é a censura social a todos cujo nome vai sendo conhecido, o mais que devemos evitar é que tudo isto passa a ser visto como normal.
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O colarinho branco de muitos destes ricos, só os ricos têm acesso a estas contas, permite-lhes aparecer a dizer que é tudo legal. É legal, por exemplo, ter uma empresa imobiliária falida, a dever milhões de euros, e comprar, no mesmo ano, um iate através de uma conta offshore. Chama-se Vasco Pereira Coutinho, esteve nos Panama Papers, está nos Pandora Papers, tem calote no BES e no Novo Banco e tem tudo legal. É Marquês em Espanha, título atribuído pelo anterior rei, Juan Carlos.
É só um nome, que já tínhamos esquecido, depois dos Panama Papers e que haveremos de esquecer, quando passarem à história os Pandora Papers.
Num mundo em que crescem as desigualdades, em que os ricos estão cada vez mais ricos, até num país com 20% da população na pobreza, vê-los a criar músculo com esteroides, ocultando a riqueza, fugindo a pagar impostos no seu país, deveria merecer, para além da nossa censura, a nossa exigência para que alguma coisa comece efetivamente a mudar.
Até lá, vamos vivendo com toda esta gente a julgar-se mais esperta que os outros, só porque não têm vergonha na cara.