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Uma delegação africana de peso, liderada pelo Presidente (PR) sul-africano Cyril Ramaphosa, incluiu também os PR"s do Egipto, República Democrática do Congo, Senegal, Zâmbia, Uganda e Comores, numa "delegação de paz e de boas vontades", que passou por Kiev antes de avançar para Moscovo. Coincidentemente, na mesma semana, a passada, o PR argelino Abdelmadjid Tebboune também efectuou uma visita oficial de três dias a Moscovo, onde acordou um Partenariado Estratégico com a Rússia. Melhor, foi assinar o reforço do Partenariado Estratégico assinado por Abdelaziz Bouteflika (PR-1999/2019) em 2001, ou seja, o reforço da cooperação económica e comercial, sobretudo nas áreas militar e hidrocarbonetos. A importância deste timing e desta assinatura está na mensagem que a Argélia envia à França, onde tinha agendada visita oficial este junho. O mês ainda não acabou, mas Tebboune foi primeiro a Moscovo e tem ainda dez dias para nos esclarecer que tipo de sinal é este. Caso vá a Paris antes do 30 de junho, o PR argelino não hostilizará um "aliado entranhado", reserva moral para todo-o-serviço. Caso não vá a Paris, ou o faça a partir do Primeiro de julho, estará a tomar uma posição sobre o que acha vir a ser "o lado certo da História", no momento, longínquo certamente, da assinatura da paz. Está a tomar uma decisão irreversível no âmbito da "sub-guerra das alianças da bipolaridade tripolar". Uma jogada segura, já que tanto França como Rússia, têm assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Visitar a França até ao fim do semestre será manter a ideia de a Argélia ainda se encontrar no limbo da decisão/indefinição "qual é o lado certo da História". Adiar esta visita oficial a Paris, será desfazer o "mito da indecisão" argelina e o assumir de um alinhamento claro. A Argélia precisa da Rússia nas Nações Unidas e a Rússia precisa da Argélia no Magrebe para a projecção de força de Moscovo no Mediterrâneo. A proximidade argelina do Estreito de Gibraltar, assegura à Rússia que esta conta para a garantia de um Mar Mediterrâneo permanentemente aberto ao Atlântico.
A "Delegação Africana de Paz e de Boas Vontades" a Kiev e Moscovo
Este "picar-de-ponto" africano em Kiev e Moscovo, trata-se sobretudo de um "África presente! Vocês que sempre apoiaram a emancipação de África e a igualdade entre os povos nos livros da escola. Aqui estamos para mediar, para contribuir para a paz"!
Trata-se disto e de cereais, de vir dos trópicos aos "senhores do frio" falar-lhes do "lado certo da História", dizer-lhes que já foram considerados "povos sem História" e que têm que contar. Esta
iniciativa, que teve maior interacção e melhor recepção em Moscovo, dado o cepticismo do PR ucraniano quanto às vontades de paz do PR russo, é também um reflexo da globalidade do conflito e da "sub-guerra das alianças e alinhamentos". África aliás, sempre foi "continente bipolar" fértil para disputas à distância. Continua a ser!
A Acontecer / A Acompanhar
- 23 de junho, 18h, Auditório do Museu de Portimão, Conferências: "Os Renegados de Alcácer-Quibir", por Frederico Mendes Paula. "As Relações com Marrocos depois de Oued El-Makhazin - O caso particular do Renascimento Alaouita", por António Jorge Afonso;
- 24 de junho, Salão Nobre da Mesquita Central de Lisboa, Conferência "A Reforma no Islão - Realidade ou Utopia?" Programa: 13h Almoço no Restaurante da CIL (inscrição prévia). 15h/17h Conferência com Moderação de João Henriques (Obs. Mundo Islâmico) e Palestrantes CIL Mahomed Iqbal, Sheikh David Munir, Sheikh Zabir Idriss e Mohsen Ghasemi (IPRI);
- Todos os domingos, na Telefonia da Amadora, entre as 21h e as 22h, Programa "Um certo Oriente", apresentado pelo Arabista António José, um espaço onde se misturam ritmos, sons e palavras, através das suas mais variadas expressões, pelos roteiros do Médio Oriente e Ásia.
Raúl M. Braga Pires, Politólogo/Arabista, é autor do site www.maghreb-machrek.pt (em reparação) e escreve de acordo com a antiga ortografia.
