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Marcelo e Costa trocam galhardetes na praça pública, ameaçam-se mutuamente e fontes de Belém, de São Bento e do Rato despejam argumentos nas redações tentando provar que a responsabilidade pelo péssimo momento das relações institucionais é do adversário. Sim, leu bem, do adversário!
Primeiro-ministro e Presidente da República já não confiam um no outro. É possível que cada um deles tenha a secreta esperança de que o péssimo momento possa ser ultrapassado, mas sempre na perspetiva de que tem de ser o outro a ceder. Costa quer Marcelo mais calado, Marcelo quer o governo remodelado.
Sendo evidente que "cada macaco no seu galho" não é a realidade de hoje, surpreende que, no meio de tanta algazarra, tanto Costa como Marcelo apareçam a dizer que está tudo bem, que não há nenhuma querela institucional. Hipocrisia política ao mais alto nível.
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Sejamos claros, um Presidente que faz do Conselho de Estado um espaço de debate político não está à espera de ser aconselhado, está à espera de influenciar. Da mesma forma, um primeiro-ministro que faz greve da palavra não está à espera de esclarecer, está à espera que o ruído do seu silêncio impeça todos os outros de serem ouvidos.
O regresso ao vivo e a cores deste conflito institucional mostra à evidencia que o protagonismo de Montenegro, que a todos surpreendeu, foi uma paixão de verão. As longas férias de Costa deixaram um vazio que o PSD soube aproveitar, mas não resiste ao teste do algodão. Para mal de todos nós, e dos próprios protagonistas, a política à portuguesa resume-se a uma crise institucional que pode estar a chegar a um ponto de rutura.
Neste ponto da história, já todos sabemos que saem os dois a perder. A questão agora é a de saber para que lado cai a economia. Costa arrisca bastante mais, porque é suposto ter futuro político para lá da legislatura, mas Marcelo corre o risco de vir a ser o primeiro Presidente a terminar o mandato entre Deus e o Diabo, desagradando a um e a outro. Quando um Chefe de Estado precisa que as coisas corram mal ao governo e, portanto ao país, para que lhe corram bem a ele, está muito perto de acabar derrotado.