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Daniel Oliveira defende que o Ocidente tem de ser "firme" no apoio aos ucranianos, mas "muito sensato" em relação à solução do conflito com a Rússia e à escalada que a pode impedir. No espaço de comentário que ocupa na TSF, o jornalista alerta que as portas da negociação "têm de estar abertas".
O comentador acredita na possibilidade de o desgaste da Rússia com a guerra na Ucrânia conduzir o Presidente russo ao diálogo. Apesar de considerar que Vladimir Putin ainda é popular na Rússia - a repressão e a censura garantirão que a contestação no país não dispare -, e que a elite russa está presa ao Presidente, Daniel Oliveira afirma que "as coisas podem mudar". O jornalista crê que a crise económica e o cansaço da guerra podem levar ao cansaço do povo e a que a elite económica perceba que se afundará com Putin.
"A guerra não está a ser o passeio que [os russos] esperavam. Longe disso", nota.
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Apesar dos apelos da Ucrânia, Daniel Oliveira constata que a NATO não pode impor uma zona de exclusão aérea, porque, nesse caso, teria de abater qualquer avião russo que a cruzasse e começar uma guerra mundial - só que, desta vez, entre potências nucleares. "Não se salvaria a Ucrânia, apenas se entregaria o mundo a um inferno sem precedentes na história da humanidade", sublinha.
O comentador recorda que o Ocidente perdeu a oportunidade de conduzir a Rússia à democracia, nos anos 90, antes da ascensão de Putin ao poder. ""Era aí que a Rússia deveria ter sido integrada num sistema de segurança europeu, em vez de ser tratada como uma derrotada da História", lamenta. "Não o fizemos e o monstro cresceu, para entrar numa disputa perigosa com os Estados Unidos na Europa."
Há, portanto, que evitar repetir os erros do passado e deixar escancaradas as portas das negociações. Se, ainda assim, "Putin não negociar, teremos de acreditar que Yelena Osipova se multiplicará como exemplo", atira Daniel Oliveira. O comentador fala da ativista, nonagenária, artista plástica, e uma cidadã russa "que dá a cara". "É uma sobrevivente do terrível cerco alemão a Leninegrado. Sabe o que é a guerra. Consegue imaginar o que está a ser o cerco a Mariupol, o que será o cerco a Kiev", repara o jornalista.
O vídeo que se tornou viral, há dias, em que dois polícias russos pegam no "corpo frágil" de Yelena para a deter é, na ótica de Daniel Oliveira, a imagem "de todas as ditaduras, lideradas por cobardes, que temem a verdade, temem a oposição". "Não há ditadores fortes. Só os democratas têm a coragem de enfrentar, de peito aberto, os seus opositores", sustenta.
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Para Daniel Oliveira, Yelena Osipova "é uma das esperanças que resta à Europa". Mas, para que se multiplique o seu exemplo, "custará muito tempo, e muitas vidas".
Texto: Rita Carvalho Pereira