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Por vontade de Pedro Sánchez, e se conseguir fazer passar parlamentarmente este acordo, Pablo Iglésias será vice-Presidente do Governo de Espanha e o Podemos entrará no Governo. É o que por cá se noticia, sem se esclarecer que o Podemos é um partido de extrema-esquerda, radical, antissistema, defensor e apoiante de ditaduras e da libertação de assassinos e terroristas.
Andamos por cá muito preocupados com o Vox, e eu já aqui disse que é partido pelo qual não nutro qualquer simpatia, mas ninguém parece andar preocupado com a extrema-esquerda radical que vai chegar ao Governo de Espanha (e nem se compare com a "Geringonça", que não só não colocou qualquer partido no Governo como, ao menos, assegurava uma maioria parlamentar, coisa que o Podemos nem de perto nem de longe assegura).
Que duplo critério é este que faz com que um radical populista defensor de terroristas e assassinos passe a ser aceitável se for de esquerda, ou se gostar do Che Guevara, ou se souber cantar de cor a Internacional?
Desde quando a liberdade e a democracia são valores relativos, que só são relevantes para nos afastarmos de radicais de direita, mas nunca para denunciar radicais de esquerda? Por que razão há esta ternura e candura com radicais de esquerda? Uma parte do sucesso de partidos como o Vox nasce aliás desta estupefação.
Vou citar algumas frases e ideias de Pablo Iglésias, para saberemos bem de quem estamos a falar:
- "A Venezuela é um exemplo democrático";
- "Ser democrata é expropriar";
- "Que existam órgãos de comunicação social privados é um ataque à liberdade de expressão";
- "Os presos da ETA já deviam estar a sair das prisões";
- "O terrorismo da ETA tem explicações políticas";
- "O direito de porte de arma é uma das bases da democracia" (irónico, não é?).
Estamos a falar de um líder e de um partido que organizou perseguições a políticos à saída das suas casas, onde estavam com as suas famílias, porque se sentiam moralmente superiores. Que este partido, que este líder, esteja na iminência de entrar no Governo de um vizinho nosso devia motivar mais do que a ternura com que os radicais de esquerda são tratados.
E se acham que o Podemos estar no Governo de Espanha não é motivo de qualquer preocupação, atrevo-me a citar o próprio Sánchez, que disse há semanas que não conseguia dormir descansado, nem ele nem 95% dos espanhóis, com a possibilidade de ter o Podemos no Governo, um parceiro com conceções muito diferentes de democracia e em que não se podiam confiar segredos de Estado - bem lembrado das primeiras exigências que o Podemos há anos lhe colocou: controlar os serviços secretos e as agências de comunicação.
Se este acordo for para a frente, o desafio dos partidos moderados de Espanha passa a ser redobrado, porque a polarização e a radicalização vão intensificar-se. Não são boas notícias, mesmo que, por cá, de forma romântica, se aplauda o abraço de Sánchez a um populista radical.