Daniel Oliveira contesta o facto de qualquer critica à União Europeia ser automaticamente classificada como "populismo" ou extremismo".
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Daniel Oliveira considera que "mesmo quando é feita em nome da democracia", qualquer crítica à UE "recebe imediatamente o carimbo de populista". Para o comentador, este fenómeno constitui um "bloqueio ao debate" que está a isolar o europeísmo "numa bolha, excluindo cada vez mais cidadãos do futuro da Europa e atirando cada vez mais eleitores para as margens do sistema".
No espaço de comentário que ocupa semanalmente na TSF, " A Opinião", o jornalista apontou que o PCP e o Bloco de Esquerda são os únicos partidos em Portugal que mostram sentido crítico quanto à União Europeia (UE), mas são condenados por isso mesmo.
Daniel Oliveira afirma que, durante os primeiros 15 anos na UE, Portugal conseguiu desenvolver-se e aproximar-se do nível dos vizinhos europeus. "Mas as coisas mudaram quando entrámos no euro", adverte.
"A nossa economia estagnou. Os últimos 20 anos foram os piores dos últimos 150. Crescemos menos em 20 anos do que nos 10 anteriores à adesão à moeda única e, em todo o mundo, só 12 países cresceram menos do que nós", observa o comentador.
Daniel Oliveira vai mais longe e refere mesmo que "a única vantagem do euro são as baixas taxas de juro", o que, para o comentador, não se trata de apenas "um pormenor". "Quer dizer que é fácil pedir emprestado. Em troca, produzimos menos, exportamos menos, crescemos menos, e dependemos, cada vez mais, do que nos emprestam", constata.
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O jornalista critica os candidatos da direita, Paulo Rangel e Nuno Melo, por apoiarem como candidato à presidência da União Europeia Manfred Weber, "um homem que lutou por sanções a Portugal em 2016 - estávamos nós a sair da crise".
Critica também António Costa e Pedro Marques, que tentam convencer o país de que é possível "casar as metas europeias com uma política social e económica decente". "Será possível manter estes défices, pagar a dívida, cumprir as metas europeias e ter uma política social decente quando voltar a existir uma crise europeia? Claro que não. Para o futuro, é isso que interessa", atira.
Na ótica de Daniel Oliveira, apenas o PCP e Bloco de Esquerda discutem a Europa. E embora estejam ambos "no plano crítico", têm estratégias diferentes.
"João Ferreira [o candidato do PCP/PEV] joga a cartada da coerência, pelos avisos certeiros que o PCP fez em relação ao euro. Uma coerência que merece elogio, mas que o faz votar contra mudanças justas só porque vêm da Europa - foi o que fez com os impostos sobre o digital e as transações financeiras ou com as sanções contra a ditadura húngara", nota o comentador.
Já a candidata do Bloco de Esquerda, Marisa Matias, "mantém uma postura mais realista, que lhe permitiu fazer uma campanha mais aberta", defende Daniel Oliveira.
"Nuno Melo, que acha que o Vox não é de extrema-direita, diz que estes dois candidatos são extremistas, porque têm sentido crítico em relação ao caminho desta União", aponta o comentador. E, a essa luz, "ser moderado é estar de mão estendida, receber o dinheiro, gastá-lo bem, e meter o patriotismo na gaveta para apoiar em Bruxelas quem defendeu sanções contra nós".
Texto: Rita Carvalho Pereira