Num clique chega-se às redes sociais e daí, com grande rapidez, salta-se para encontros fugazes, apelidados de amizade ou sexuais. É só estimular o aparelho com um dedo no ecrã. E tantas vezes pelo ecrã se ficam. Satisfeitos. Outras tantas nem por isso.
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Num quarto cabem um, dois, três ou quatro: ele ou ela; ele e ela; ele, ela e o dele; ele, ela e o dela; ele e ela com o dele e o dela. É possível que o smarphone seja o objeto fetiche da atualidade. E, se assim for, com ele passam a estar muitos mais num quarto. Esse material inanimado que ganha vida e poderes mágicos - como um verdadeiro fetiche - tem vindo a ocupar lugar na relação entre as pessoas. Ou no meio de duas pessoas. Adquire o poder sobrenatural, alguns chamam-lhe virtual, de facilitar a comunicação. Salta-se para as redes sociais e comunica-se com maior rapidez, facilidade e frequência, ainda que num paradoxo com o efémero. Daí tira-se prazer. Muito ou pouco prazer. Ele acontece. Uma amálgama de excitação com olhos postos num ecrã. O homem hoje é mais curvado e menos erectus na procura do prazer.
Num clique chega-se às redes sociais e daí, com grande rapidez, salta-se para encontros fugazes, apelidados de amizade ou sexuais. É só estimular o aparelho com um dedo no ecrã. E tantas vezes pelo ecrã se ficam. Satisfeitos. Outras tantas nem por isso. Quando a realidade acontece e duas pessoas resolvem marcar um encontro no frente a frente real, sem o intermediário smartphone, acontece que a excitação e o prazer até podem acontecer, por breves momentos, mas muito frequentemente dissipam-se, desaparecem. Como se não houvesse rede ou dados móveis.
Que feitiço encerram os dispositivos móveis? Que fetiche é este?
As crianças de agora nascem com uma aptidão extraordinária para manusear um smartphone e um tablet. Têm uma fixação por esses objetos. Exploram mais depressa o que está dentro desse zingarelho do que o próprio corpo. Hoje, que diria Freud sobre as fases de desenvolvimento da criança? Incluiria ele uma fase dedal neste processo? E esse período seria antes ou depois da fase fálica? E Jean Piaget? Como reformularia a primeira etapa do desenvolvimento infantil, a sensório-motora, onde a criança desenvolve a coordenação do corpo e descobre sensações? O prazer e não prazer acontecem nos primeiros dois anos na relação com equipamentos tecnológicos. Sairá daqui a capacidade futura de se poder amar um robot, uma Sofia?
Um dia perguntei a um rapaz de 10 anos se se imaginava a apaixonar-se e a querer namorar com um robot como a Sofia, por exemplo. Ele respondeu que não, que os filhos dele talvez não, mas que os netos possivelmente sim.
Certo é que hoje, independentemente da cultura, idade ou condição social, todos nós dormimos com ele ao lado. Mais do que sapatos vermelhos, malas ou brinquedos sexuais, o smartphone é provavelmente o objeto fetiche dos nossos dias.
*Mésicles Helin é psicólogo clínico