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Na passada sexta-feira 10, o Irão e a Arábia Saudita assinaram, sob os auspícios da China, um acordo para reatarem relações diplomáticas com os seguintes objectivos: Reabrir as Embaixadas em ambas as capitais (fechadas desde 2016), reactivação de um Acordo de Cooperação Securitária de 2001 e também um pacto anteriormente estabelecido nas áreas do comércio, economia e investimento.
O que é que está em jogo? Relativamente ao Irão e à Arábia Saudita, há um interesse mútuo em estancarem o investimento feito na guerra do Iémen, onde ambas as partes se confrontam indirectamente, sem que nenhuma das partes perca a face. É preciso poderem ambos virem para os telejornais clamarem vitória, justificando-a com dados concretos. Há também, de momento, o interesse de ambas as partes de pacificarem toda a região do médio oriente. Também eles, no contexto da guerra na Ucrânia, preferem apostar num "wait and see" antes de se alinharem em demasia com "o lado errado da História", não lhes permitindo sair do "beco dos párias" mais tarde.
O que é que de facto está em jogo? Puxando a objectiva ainda mais para trás e alargando o espectro da análise, isto acontece por iniciativa chinesa, pelo desinvestimento da Administração Biden na Arábia Saudita. Biden, que resolveu descartar todas as iniciativas da Administração Trump, abriu o flanco neste particular à iniciativa chinesa, que sabia ser bem-recebida, pelos crescentes anticorpos que americanos foram criando na região ao longo do século XX. É nesse sentido que Emirados Árabes Unidos, Omã, Qatar, Bahrain, Kuwait, Iraque, Egipto e Turquia, veem com bons olhos este reatar de relações diplomáticas entre os rivais-vizinhos. Por outro lado, intimamente, sauditas e iranianos, creem que esta "aliança" lhes facilitará o nuclear! Em que medida? Não poderá haver um Irão nuclear sem uma Arábia Saudita nuclear e vice-versa. Nesse sentido, os locais creem que em binómio poderão atingir este objectivo mais rapidamente. Que reacção isto provocará na Administração Biden e nos israelitas? Obrigará naturalmente Biden a "regressar" a uma iniciativa da Administração Trump, os Acordos de Abraão, um "glutão" como o do detergente" que vai convencendo Estados desavindos com Israel a iniciarem ou reatarem relações com estes. Emirados Árabes Unidos, República do Sudão, Bahrain e Marrocos já aderiram a este pacto diplomático, havendo mais países na calha.
Será desta forma que Biden poderá voltar a ganhar influência no Médio Oriente, através de uma iniciativa de Trump, para contrariar uma iniciativa de Xi Jinping, anunciada no mesmo dia em que este garantiu um inédito terceiro mandato presidencial. O grande jogo é este, China versus Estados Unidos da América, com o umbigo do Mundo pelo meio, mais a Ucrânia!
A Acontecer / A Acompanhar
- 15 de Março, 2ª Edição do Forum Internacional - Exportação e Internacionalização, no Hotel Sheraton do Porto. A iniciativa, organizada pela Câmara de Comércio e Indústria Luso-Francesa em parceria com outras 26 Câmaras de Comércio Bilaterais, é dedicada a empresas interessadas em exportar ou internacionalizar-se, para conhecer e entrar em contacto num único local com 26 mercados de todo o mundo.
O evento compreende:
- Espaço Feira: Stands com expositores: para encontrar em B2B as CCI e vários especialistas da exportação;
- Espaço de Conferências: apresentações dos mercados e workshops sobre exportação;
A participação portuguesa contará com a presença da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Marroquina.
Raúl M. Braga Pires, Politólogo/Arabista, é autor do site www.maghreb-machrek.pt (em reparação) e escreve de acordo com a antiga ortografia.
