"Singuingai, ai, iupi, iupi, ai – Fui de visita à minha tia a Marrocos, hip, hop"!
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E quem não se recorda deste refrão, não teve infância tão feliz, com certeza, como os demais. De facto, encontro-me em Casablanca, mas não de visita à minha tia!
Quem cá esteve também recentemente foi o Primeiro-Ministro espanhol Pedro Sanchez, logo a começar o presente mês, numa visita de quatro dias, com um momento alto e um momento muito baixo, actualmente em exploração profunda pela oposição espanhola. O primeiro momento, alto, foi o anúncio do investimento de 800 milhões de euros, durante o Fórum Económico Marrocos-Espanha, marcando posição firme enquanto terceiro parceiro económico de Marrocos. Este fórum teve como preocupação principal, explorar as oportunidades de negócio vindouras, tendo em conta a mudança de paradigma internacional que a guerra na Ucrânia já provocou na questão das dependências energéticas, ambiente e economia circular.
A relação entre Espanha e Marrocos tem visto ultimamente picos positivos e negativos inevitáveis, fruto da complexa teia de interesses de ambos os lados do estreito. Há praticamente um ano, em Março do ano passado, o reconhecimento do Governo liderado por Pedro Sanchez da soberania marroquina sobre as Províncias do Sul, vulgo Sahara Ocidental, cada vez mais Sahara Marroquino. Em Janeiro passado, votação do Parlamento Europeu, aprovou moção condenatória a Marrocos, pela primeira vez em 25 anos, sobre questões de Direitos Humanos e liberdade de imprensa. Esta "condenação" surge também a partir do novelo "Qatargate", o qual implica acusações de corrupção a altos funcionários do Parlamento Europeu. Na votação da referida moção parlamentar, deputados espanhóis, que publicamente têm vindo a defender Marrocos, votaram a favor da moção condenatória.
A paga marroquina não esperou mais que este Fevereiro e, durante este quatro dias de visita oficial o Primeiro-Ministro espanhol não foi recebido pelo Rei Mohamed VI, ponto alto de qualquer visita oficial ao Reino, nem que seja apenas para a fotografia oficial. Começou mal o ano para a relação Espanha-Marrocos? É relativo, considerando mesmo que não. Porquê? Porque sazonalmente, sempre que se verifica uma tensão maior entre os dois reinos, verifica-se também um exponencial aumento de investimento espanhol no seu vizinho do sul. Prova disso, foi o anúncio destes 800 milhões disponibilizados e alocados por "nuestros hermanos" aos primos marroquinos.
Num breve aviso à navegação portuguesa, é aconselhável, caso estejam previstas visitas oficiais nossas a Marrocos, que sejam adiadas e até reformuladas no modelo, já que a referida votação também teve deputados portugueses a votarem "contra Marrocos", colocando o nosso Primeiro-Ministro na mesma posição incómoda que a posição actual do seu homólogo espanhol. Não queremos que Costa venha a Marrocos de visita e bata com o nariz na porta!
Raúl M. Braga Pires, Politólogo/Arabista, é autor do site www.maghreb-machrek.pt (em reparação) e escreve de acordo com a antiga ortografia.
