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Hoje quero falar-vos sobre uma droga de nome Captagon produzida sobretudo na Síria. Em primeiro lugar, uma pergunta: faz sentido analisar o impacto de uma droga do ponto de vista da política internacional? Infelizmente, sim. Quando pensamos em tráfico de drogas, ou seja, narcotráfico, fazemos geralmente a associação com a cocaína e a heroína.
Nestas matérias, lembro-me sempre da tentativa do Imperador da China de impedir a circulação de ópio em meados do século XIX. Do outro lado, estavam os britânicos que queriam comercializar ópio, evidentemente entre muitas outras coisas, e que venceram a justamente apelidada Guerra do Ópio em 1842. Perante a máquina militar britânica as tropas chinesas não tiveram qualquer hipótese.
Este exemplo histórico introduz um tema importante em relação ao narcotráfico nos dias de hoje: o papel do estado. Por outras palavras, quando estamos perante uma situação na qual as estruturas do estado (ou mesmo a sua liderança) em vez de combaterem o tráfico de drogas ou fecham os olhos ou são mesmo parte interessada na sua produção.
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É justamente neste ponto que entra a Síria de Bashar al-Assad e a droga sintética de nome Captagon e, em especial, no contexto do regresso recente de Damasco à Liga Árabe. Para al-Assad a suspensão desta organização desde 2011, devido à brutalidade da repressão infligida aos próprios cidadãos da Síria, foi sempre muito difícil de digerir. Segundo a Al-Jazeera, «Captagon tem feito parte das discussões diplomáticas regionais de alguns países árabes com vista à normalização de relações com a Síria. O estimulante tipo-anfetamina e viciante, produzido em massa na Síria e traficado para os países do Golfo, parece ter sido uma moeda de troca para o Presidente Bashar al-Assad nas negociações para pôr fim à suspensão síria na Liga Árabe.»
Mais ainda, «embora Damasco negue qualquer envolvimento neste comércio, observadores dizem que a produção e o tráfico da droga trouxeram milhões de dólares para al-Assad, os seus associados e aliados enquanto procuravam por um salva-vidas económico».
Precisamos de conhecer melhor os meandros do narcotráfico na Síria, no Afeganistão ou na Colômbia. Dúvidas sobre o seu impacto internacional é que já não subsistem.
Desejo a todos uma boa semana.