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De vez em quando vale a pena irmos ao encontro do nosso eu mais idealista - aquele ou aquela que éramos, jovens cheios de sonhos - pensarmos como esperávamos viver a vida e confrontar isso com a realidade atual. Perceber se estamos perto, na prática desses sonhos ou se fomos varridos pelo vento da sociedade, da pressão, das obrigações e das urgências que nos fazem correr sem parar.
Não serão poucas as vezes em que sentimos que é a agenda que manda em nós e não o contrário.
O mundo está feito assim.
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É preciso crescer: a economia tem de crescer, as taxas de juro têm de crescer, os preços têm de crescer, o consumo tem de crescer, os lucros dos bancos têm de crescer.
O mundo corre desenfreado para crescer, nós corremos desenfreados também.
E com isto tudo, o planeta Terra vai-se gastando.
Para que ele nos acompanhasse nesta ânsia gananciosa de crescimento, os recursos naturais do planeta teriam de crescer também. Mas não crescem, são finitos. Renovam-se e regeneram-se, mas em tempos diferentes daqueles que são os nossos atualmente.
A poluição e o aumento das emissões de dióxido de carbono para a atmosfera causadas pelo ser humano são em quantidade tal que a natureza não consegue capturar em quantidade suficiente esse dióxido de carbono para que possa regenerar este habitat maravilhoso em que vivemos e do qual dependemos para sobreviver.
Por causa disso, as últimas semanas foram profícuas em eventos climáticos. Na Coreia do Sul dezenas de pessoas morreram na sequência de cheias e deslizamentos de terra. Na Grécia, a ilha de Rhodes foi evacuada devido aos incêndios que não acalmaram. Milhares de pessoas continuaram entre sofrimentos sem descrição, presas e abandonadas a si mesmas em áreas desérticas. Correu mundo a imagem de uma mãe com uma filha de cinco anos, mortas de calor e sede no deserto.
No hemisfério norte foram registadas vagas de calor e recordes de temperaturas numa frequência inédita.
Cabe sobretudo aos Estados e aos seus governantes o papel decisivo de liderança para interromper este ciclo autodestrutivo. Cabe aos governos cumprirem as metas de emissões, investirem na ciência que nos dará todas as soluções de sustentabilidade que necessitamos nesta Terra. Caberá aos governos regularem e imporem regras às empresas que lucram com a poluição.
A nós cidadãos, cabe-nos exigir isso e também como consumidores, podemos dar o tom, inverter caminhos à economia, dar sinais a quem nos lidera que outro mundo neste planeta tem de ser possível.
Precisamos de desacelerar e a si que me lê ou ouve, deixo o apelo de fazer a sua parte: viva mais devagar. Viva no presente. Consuma menos, só o necessário e com a menor poluição e desperdício possíveis.
Aproveite mais a beleza sem fim da natureza, a poesia das coisas mais simples, das pessoas à sua volta.
O ritmo frenético em que vivemos não faz o mínimo sentido. Nem nós, nem o planeta Terra aguenta. A arte da vida não pode ser apenas um sprint para o fim. Tem de ser um passeio de contemplação.