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Quando se fazem as coisas apenas para inglês ver, não se resolve coisa nenhuma. Seguíamos felizes na lista verde do Reino Unido com os nossos rivais (Espanha, Itália e Grécia) de fora e já sabíamos, porque no passado tinha sido exatamente o inverso, que podia ser sol de pouca dura. Afinal, a variante indiano/nepalesa de que falam as autoridades britânicas já é do nosso conhecimento há pelo menos uma semana. Surpresa era se não ligassem nenhuma a estes pormenores que se transformam muitas vezes em factos determinantes nas vagas desta pandemia que tão depressa vão embora como logo a seguir estão de regresso.
As autoridades portuguesas terão pensado que precisavam de se portar bem e não incomodar os súbditos de sua majestade mesmo que eles se estivessem a portar mal na Ribeira do Porto.
De qualquer forma, os ingleses lá vieram em força para o Algarve e para a Madeira com um salto a Lisboa e um assalto ao Porto, para fazer a final da Champions entre dois clubes ingleses, que os ingleses, por um misterioso desígnio, não quiseram organizar no seu próprio reino. As autoridades portuguesas terão pensado que precisavam de se portar bem e não incomodar os súbditos de sua majestade mesmo que eles se estivessem a portar mal na Ribeira do Porto, não fosse o exercício da autoridade cair mal junto do governo de Boris Johnson. Só que do outro lado do Canal da Mancha quem não se dá ao respeito não costuma ser respeitado. Quer dizer, é lá como cá.
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A grande ofensa foi mesmo o nosso governo olhar para nós como cidadãos de segunda, quando os tratava a eles como VIP de pulseirinha a quem tudo é permitido.
O que pensar de quem impõe regras aos nacionais que não se aplicam aos estrangeiros? Agora mesmo, como se explica que com um agravamento dos números, o governo corra a anunciar mais etapas de desconfinamento? Havia pressa de nos tratar a todos como ingleses, porque a grande ofensa foi mesmo o nosso governo olhar para nós como cidadãos de segunda, quando os tratava a eles como VIP de pulseirinha a quem tudo é permitido. A pressa dá nisto, os números não param de crescer e, perante tamanha bagunça, o governo deles mandou-os recolher a casa.
Vejam lá como Fernando Medina percebeu que há riscos que não se correm e, depois de casa roubado com os festejos leoninos, pôs trancas à porta, proibindo os festejos dos santos.
Fazem-se leis e matrizes de risco para inglês ver, só que os ingleses querem ver mais longe. Basta olhar para a matriz como ela nos foi apresentada em março para perceber que devemos manter o desconfinamento, não há dúvida, mas com todas as cautelas, porque quem tudo quer, tudo perde. Vejam lá como Fernando Medina percebeu que há riscos que não se correm e, depois de casa roubado com os festejos leoninos, pôs trancas à porta, proibindo os festejos dos santos. É na capital que são precisas cautelas redobradas. O concelho vai ter de esperar e não avança na próxima fase de desconfinamento. Quando os números estão a subir é sempre mais prudente agir com cautela, a descer é que todos os santos ajudam.