"A Opinião" de Nádia Piazza, na Manhã TSF.
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Não vou fazer juízos de valor sobre se os 50 milhões de brasileiros que votaram em Jair Bolsonaro no primeiro turno, candidato às presidenciais no Brasil, são seres desprovidos de capacidades cognitivas para votar em quem quer que seja... Não são! Também não o fiz em 2002, quando 50 milhões elegeram Lula da Silva presidente do Brasil. E eu fui uma delas.
O perfil do homem comum brasileiro, quer o conservador por convicção quer o conservador à força das circunstâncias, é a maioria da população trabalhadora brasileira, que acredita na meritocracia e tem valores bastante arraigados.
Bolsonaro apresentou-se como um candidato antissistema. Mas um candidato com tiradas racistas, homofóbicas, misóginas... A lista parece não ter fim. É verdade. Se por má formação, convicção ou tática de guerrilha, o tempo dirá.
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Bolsonaro é o produto de medos recalcados, o que resta do fantasma histórico de uma ditadura mal resolvida. O país caminhou ao encontro do seu discurso e receita, mas ele não é o mito, nem a cura.
A tática discursiva é muito similar à de Trump. Trump atira primeiro e pergunta depois. Mensagens curtas com soluções milagrosas para um mal real.
Do outro lado da barricada, F. Haddad, de um PT que se assumiu desde sempre como antissistema, mas que provou ser a encarnação do próprio sistema naquilo que ele tem de pior, tornando a corrupção corporativa e tentacular, a níveis nunca antes vistos mesmo no Brasil.
Um PT que tão-pouco soube redimir-se, que não aceita o fim do sonho encantado muito por culpa sua.
O que se está a passar no Brasil é atual e vem reforçar uma tendência mundial.
É de medo e de ódio de sentir medo de que se trata.
A maior democracia latino-americana mostrou-se polarizada como nunca antes. A democracia bateu fundo no Brasil não por não ter funcionado. Funcionou! Mas por ter sido retirado ao cidadão qualquer opção moderada credível.
As opções foram retiradas aos brasileiros pela violência extrema e a perda de direitos, liberdades e garantias mais básicas de uma população atemorizada, presa em casas fortificadas com cercas elétricas, em que parar num semáforo a qualquer hora do dia e da noite é sinónimo de perigo de vida e andar de transporte público é quase uma violação garantida. Para não falar de uma taxa de desemprego de 13%.
É esse o país real que foi a votos.
Se a força tomar as rédeas, ninguém conseguirá prever o futuro. Nem quem empunha a arma, nem quem dá o corpo à bala. Quando a força se impuser à razão, da boca não sairá palavra. Já foste...
Mas vamos às lições:
O primeiro turno das eleições brasileiras representou um tsunami na política tradicional, culpa da incapacidade de todos os partidos políticos do arco governativo em implementar reformas estruturais, combater a corrupção e a violência.
O homem comum varreu o sistema político tradicional.
O povo claramente rejeitou o financiamento de campanha e foram as redes sociais o veículo da mensagem.
Foi voto de protesto. Foi, sim senhor.
Foi voto de pesar.
Foi voto pela mudança. Qualquer mudança.
Foi um voto de #ELES NÃO, mas #ELES TODOS.
Mas acalmem-se. O Brasil é um país pluriétnico, multicultural, plurirreligioso, é tutifrutti, é carnaval e também é a 9.ª economia do mundo!