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Daniel Oliveira defende que "António Costa tem razão quando diz que muito mais perigoso do que o Chega é a contaminação do PSD pelas ideias da extrema-direita" e, para o jornalista, "não há exemplo mais acabado dessa contaminação do que o convite a Suzana Garcia para ser candidata do partido à Câmara da Amadora".
No espaço de opinião que ocupa na TSF à terça-feira, Daniel Oliveira diz que Suzana Garcia "é uma demagoga incendiária que em nada se distingue de André Ventura, sendo em vários momentos até mais extremista do que ele".
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"Num tempo de antena partidário, organizado por alguém que nem é jornalista e que não será garantido a mais nenhum candidato à Amadora, Suzana Garcia regressou aos programas da TVI que a inventaram. Explicou que, se fosse racista ou xenófoba, não seria seguramente convidada para a televisão e disse-o em frente ao mesmo Manuel Luís Goucha que convidou um skinhead para o seu programa, sem nunca referir os crimes que ele tinha cometido", explica.
O comentador acrescenta que "nessa entrevista a candidata disse que queria exterminar o Bloco de Esquerda" e sublinha que "para quem já ouviu esta personagem antes, a utilização desta expressão é banal, mas o PSD não é um partido que busca nichos eleitorais ou que precisa de atenção mediática através do choque para ganhar votos; é um partido de poder, que luta pela conquista do centro político".
Na perspetiva de Daniel Oliveira, "depois disto, Rui Rio poderia recuar e não cometer o mesmo erro que foi cometido por Pedro Passos Coelho ao manter o apoio a André Ventura como candidato do PSD à Câmara Municipal de Loures". No entanto, refere, "não o fará e o resultado será o mesmo".
"Por um crescimento politicamente irrelevante, num concelho que nunca compensará as derrotas que tenha nas principais cidades, Rui Rio ajudará a dar credibilidade a um discurso de que se tem de afastar, a não ser, claro, que acontecesse o improvável e Suzana Garcia ganhasse a Amadora. Aí, seria ainda pior. A grande vitória do PSD corresponderia a uma viragem para a extrema-direita, isto com uma liderança que se apresentou com a estratégia de colocar o partido ao centro", sustenta.
Se este for o caminho do PSD, defende o cronista, "António Costa só tem de agradecer a Rui Rio", uma vez que "o PS conquistará os votos ao centro, que não se revê neste tipo de discurso e, perante o risco de o PSD levar para o Governo Ventura e companhia, também conquistará o voto útil dos eleitores mais à esquerda. Costa não podia pedir mais do que isto".
Para o jornalista, "ao contrário do que se tem dito, não assistimos a uma reconfiguração da direita portuguesa. Assistimos ao seu acantonamento, entregando o centro político ao Partido Socialista".
"Desde o 25 de Abril, a direita só ficou quatro vezes abaixo dos 40%, duas delas foram nos últimos 10 anos, com a sua radicalização, aceitando fazer pontes com o que está para lá dos consensos fixados pela nossa Constituição e pela Declaração Universal dos Direitos Humanos. Esta tendência só se poderá agravar, criando uma situação semelhante à que se vive em França: um centro hegemónico onde a direita tradicional não conta", defende.
Daniel Oliveira afirma que "o PSD poderá achar que com estas aproximações irá conseguir moderar ou controlar a extrema-direita", mas considera que "a história europeia dos últimos 100 anos e os acontecimentos recentes em vários países ensinam-nos que é exatamente o oposto que acontece".
"As alianças com a extrema-direita não são uma boia, são uma pedra amarrada aos pés da direita democrática. Ainda mais quando é a própria direita democrática a absorver os valores e os candidatos de que se deveria afastar", remata.