Corpo do artigo
Daniel Oliveira defende que "salvar a TAP não foi, como alguns diziam, atirar dinheiro para um buraco sem fundo", mas sim "salvar uma empresa estratégica, exportadora e viável".
No seu espaço de opinião semanal na antena da TSF, o comentador destaca os lucros da companhia aérea e número de voos às taxas de ocupação, comparando-os com o semestre anterior ou com o período pré-pandemia: "os resultados da TAP confirmam uma extraordinária tendência de crescimento sustentado", sustenta.
"Não há economia sem empresas estruturantes, estranho é achar-se que Portugal se pode dar ao luxo de dispensar uma das poucas que sobra, vivendo de supermercados, bancos e quem sabe, unicórnios", ironiza.
Para Daniel Oliveira, seria "um crime deixar falir um dos maiores exportadores, com todas as condições para sobreviver", uma vez que a TAP não seria capaz de ultrapassar a pandemia sem apoio público.
TSF\audio\2023\10\noticias\03\03_outubro_2023_opiniao_daniel_oliveira
"Irresponsáveis foram os que, já sem legitimidade política, entregaram a TAP à pressa a quem nunca lá quis pôr dinheiro", condena.
O interesse na TAP de vários grupos, como o International Airlines Group (IAG), que unta British Airways e Ibéria, a Lufthansa, a Air France, ou a KLM, mostra que a TAP não só "é viável", como também "é apetecível", defende Daniel Oliveira.
O comentador lembra ainda que Portugal, "por ter feito escolhas erradas ficou sem ligação de alta velocidade ao resto da Europa", acabando por se tornar "uma ilha" e em particular "uma ilha dependente do turismo" alimentado quase exclusivamente pelas ligações aéreas.
"Sem a TAP não há hub em Portugal", afirma Daniel Oliveira. Até porque os diferentes grupos têm diferentes interesses. No caso do IAG, por exemplo, quererá transferir o hub de Lisboa para Madrid, "que teve obras recentes e está desaproveitado", acredita o comendador. "Se a solução está aqui ao lado, o que pensam que acontecerá?"
"O problema é que o principal critério para este modelo de privatização não é económico ou estratégico, é político", considera Daniel Oliveira, citando Luís Paixão Martins, consultor político ao serviço do PS, que em janeiro, disse que "para ter oportunidade de voltar a vencer um ciclo eleitoral, o PS precisa de se libertar da TAP". Este é o "critério para quase todas as decisões de António Costa", acusa.
E se o interesse estratégico nacional não for tido em conta, "a TAP será entregue a quem pagar mais e qualquer ilusão sobre a capacidade do Estado como acionista minoritário impedir que o hub fuja vale zero, escrevam o que escreverem em cadernos de encargo".
Nestes moldes, sem a companhia aérea e sem hub, como é que o Governo vai justificar "o prejuízo que resultará da diferença entre o Estado meteu na TAP e o que vai receber por ela?", questiona.
Quer o governo seja socialista ou social-democrata, "o espírito de liquidação total de um dos mais pequenos setores empresariais públicos da Europa, continua a dominar a irresponsabilidade da governação até não haver uma empresa de referência neste país. Nem as que são viáveis".
Texto: Carolina Rico