Temos escolas do século XIX, com professores do século XX, para alunos do século XXI?
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A frase que serve de título ao presente artigo é escrita e pronunciada regularmente em diversos contextos, colhendo certa amizade de alguns e a reprovação de outros, pois encerra no seu âmago a desadequação do sistema educativo na realização das aprendizagens dos discentes.
Cada vez é mais injusto assumir esta interpretação!
Não devemos reconhecer uma visão afunilada e redutora. Por um lado, é necessário trazer à colação outros elementos das comunidades educativas (tutela, autarquia, pais e encarregados de educação, pessoal não docente...), incluindo o sistema educativo e o poder político para caracterizar cronologicamente a Educação no nosso país; por outro lado, não me parece ser verdade uma das premissas inseridas no título, validando, porém, as restantes, mas só na perspetiva etária.
É verdade que temos professores do século XX (a esmagadora maioria nasceu no século passado), todavia, são profissionais altamente habilitados, muito experientes, cada vez mais capacitados digitalmente, procurando, na formação contínua que frequentam, metodologias e estratégias que utilizam na sua prática diária, mais adequada e conectada à evolução dos tempos e da sociedade.
A proficiência exigida aos docentes, bastante criteriosa, é também convocada pelos interesses (pessoais e divergentes) dos alunos, quantas vezes para além do currículo, motivando formação a expensas próprias, investimento esse que deveria ser assumido pela entidade patronal. A procura incessante de aprofundamento de conhecimentos, da atualização em novas áreas e skills, o interesse na diversificação dos instrumentos e ferramentas que suportam métodos de ensino mais eficazes e motivadores são variáveis essenciais que permitem afirmar a elevada preparação dos professores, correspondendo às expectativas das comunidades educativas e, principalmente, dos discentes.
Reportando-me somente ao ensino não superior, os alunos atuais são mesmo do século XXI, e, por esse facto, cada vez mais desafiantes e exigentes, profusamente estimulados pelos ambientes que os envolvem, quantas vezes ao alcance de um dedo. Na Escola que inclui todos (pois é de, com e para todos!), os reptos são em maior número e grandeza, principalmente para os professores desejosos de motivar os seus "pupilos", no sentido de lhes abrir horizontes e portas facilitadoras para enfrentar o mundo que os aguarda na sua plenitude. A parceria com os encarregados de educação no processo ensino-aprendizagem terá tanto sucesso quanto maior for o apoio efetivo destes, dentro das áreas e requisitos que lhes competem.
A maioria das escolas foram construídas no século passado, muitas já requalificadas, mantendo, contudo, a dignidade e integridade do trabalho que aí se desenvolve. Outras necessitam de intervenção, mais ou menos urgente, nas suas instalações, de modo a otimizar as condições do espaço físico de aprendizagem que devem merecer jus ao conforto e bem-estar. O continuado investimento nos recursos materiais das escolas torna-se uma necessidade imperiosa, malgrado a aquisição de centenas de milhares de equipamentos digitais (computadores, internet, kits tecnológicos,...), atribuídos aos alunos e professores em regime de comodato. A Educação exige um tratamento de excelência por parte do poder central, tanto ao nível dos recursos humanos, como materiais e edificado, de modo a que cada vez mais se aprenda com prazer e felicidade.
A Escola Pública conta com atores diversos, cabendo a cada funções específicas e indispensáveis, agregando as sinergias múltiplas que contribuem para desempenhos mais capacitados e profícuos, apesar de, tanto consciente como inconscientemente, alguns insistirem em a tratar tão mal.