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Vem aí o Natal, depois a passagem do ano, as crianças não regressam de imediato à escola, seguem-se quase quarenta debates entre líderes políticos, mesmo depois disso, é provável que as crianças ainda não tenham regressado às aulas, começará a seguir uma campanha eleitoral que voltará a ser altamente condicionada pela pandemia, uma parte significativa dos pais ainda devem estar em teletrabalho e a economia estará mais perto de regressar de novo aos cuidados intensivos. Descanse, não é para amanhã, é para depois.
A pior notícia não é sequer a alta probabilidade de Portugal voltar a ter, num futuro mais ou menos próximo, uma grande dificuldade para gerir a sua dívida, quando os juros começarem a subir. A pior notícia é que ninguém vai querer discutir seriamente este assunto, porque dar más notícias em campanha não dá votos, nem vitórias, como se viu com Manuela Ferreira Leite em 2009. Quando ela avisava que o país estava a ficar sobre-endividado, Sócrates aumentava a Função Pública em 2,9%, e nós sabemos quem ganhou as eleições.
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Mas temos mesmo um problema. Enquanto os juros estiveram historicamente baixos, o mais que fizemos foi reduzir o défice, mas sem reduzir a despesa pública, o que significa que quando os juros subirem vai ser preciso reduzir a despesa social ou, em alternativa, subir novamente os impostos.
Este ciclo de juros baixos ou nulos está a chegar ao fim. O Banco Central de Inglaterra anunciou ontem uma subida para travar a inflação, a Reserva Federal norte-americana diz que vai fazer o mesmo várias vezes no próximo ano e o Banco Central Europeu já faz figas quando jura que não o vai fazer.
Lamento, mas 2022 será o ano em que os juros vão voltar a subir e os endividados, principalmente os muito endividados, sejam países, empresas ou famílias voltarão a pagar caro o dinheiro que pediram emprestado.
O dinheiro barato durou vários anos e foi bom para quem soube aproveitar para reestruturar a dívida, resolver problemas e modernizar-se, mas dará uma grande ressaca aos que acreditaram que ia ser para toda a vida.