"A Opinião" de Nádia Piazza, na Manhã TSF.
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Vamos a três temas que estiveram na berra nestes últimos dias:
1) O Conselho Superior de Magistratura criou e nomeou, há um ano, o Observatório para a Violência Doméstica, justamente na sequência de um polémico acórdão do juiz Neto de Moura.
À Renascença, o Conselho Superior da Magistratura apenas esclarece que a implementação do observatório está em curso e que está a articular trabalho com a secretaria de Estado da Cidadania e Igualdade de Género.
Um ano depois e, só em 2019, já foram mortas 12 mulheres e uma criança.
Um ano depois e já tivemos um Dia Nacional de Luto pelas Vítimas de Violência Doméstica.
Um ano depois e o Primeiro-Ministro condenou expressamente o Poder Judiciário pelas decisões tão penosas para as vítimas e famílias de tal barbárie.
Mas são o Conselho Superior de Magistratura e a Secretaria de Estado da Cidadania e Igualdade de Género que andam a marcar passo. Para cada passo que marcaram, 12 meses, poderíamos dizer que temos uma vítima por mês dessa inércia!
Estão à espera de quê para se sentarem numa mesa bem lustrada e fazerem o seu nobre trabalho que, pela articulação do Poder Judiciário e Executivo, teríamos a esta altura alguma mudança palpável?
O certo é que, se já vinha tarde, agora vem escandalosamente tarde! Já cá não estão a Ana, a Helena, a Maria, a Marina, a Fernanda, a Vera, a Lúcia...
2) Já se passaram quase dois anos da tragédia de Pedrógão Grande, e a tragédia parece não ter fim.
A lição para esta geração, enquanto houver memória, é que não estamos de todo preparados para gerir um situação de pós-catástrofe. Que transparente, por boa, é só a água em Pedrógão Grande. O resto é turvo.
Fica a pergunta: mas se está tudo bem, porque não estão publicitados os inventários dos bens doados e distribuídos irmãmente pela autarquia?
Inventário este que só foi feito porque o Ministério Público assim o exigiu. Até lá, era o Deus-Dará. E, com todo o respeito aos investigadores, sinceramente, o repasto foi feito à medida de uma despensa já minguada.
Fica a pergunta: onde estão o órgão de sindicância das autarquias locais e o Conselho de Prevenção da Corrupção?
Se calhar no mesmo sítio do Observatório para a Violência Doméstica, digo eu, que não percebo nada disso.
3) E fecho com dois programas desprezíveis: "Quem quer casar com um agricultor?" E "Quem quer casar com o meu filho?".
A carga, mensagem, ou chamem como quiserem, passada por esses criativos e deveras pedagógicos programas é de tão má qualidade que merecem toda a crítica. Nem culpo os rostos que lá se expõem em tristeza e humilhação. São fantoches da pobreza humana.
Continuo na minha, para quem me tem acompanhado na TSF às sextas: muito da violência doméstica em Portugal vem do berço, deles e delas. Elas, princesas que devem suportar tudo, terem uma família feliz no porta-retratos e um jardim bem composto; eles, amimalhados por uma superproteção e ilusão de superioridade que, ao menor teste de virilidade, pende para a força do braço, rechonchudo da boa alimentação da mãe-modelo que quer saber se a pretendente a esposa sabe cozinhar! Deve ser para garantir a boa forma do tabefe!