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As primeiras crianças e jovens ucranianos começaram a chegar ao nosso país durante a semana que hoje termina. Na bagagem, parca em itens de primeira necessidade, fazem-se acompanhar de memórias dramáticas da violência a que nunca pensaram assistir, e trazem consigo a necessidade de aconchego, de esperança e de paz, procurando uma vida digna, como era a sua no seu país de origem, antes da guerra.
Querendo o melhor para os seus filhos, as mães ucranianas procuram as escolas públicas portuguesas para procederem à matrícula dos menores, para que estes possam dar continuidade aos estudos, encontrar uma normalidade do seu dia a dia, socializar com os pares e, assim, sentir a alegria e a amizade que tanto necessitam.
E as escolas acolhe(ra)m-nos de braços abertos!
Posicionados no 1.º escalão da ação social escolar, os alunos ingressam na educação pré-escolar ou no ano de escolaridade correspondente à sua idade e habilitações, sendo-lhes disponibilizada, de imediato, a disciplina de Português Língua Não Materna, uma vez que a língua é forte alicerce para a comunicação, essencial para aprendizagens efetivas, garante do acesso progressivo ao currículo. Os concidadãos ucranianos, alunos das nossas escolas há mais tempo, afiguram-se um suporte importante para os apoiar na superação da barreira linguística.
Para além da realização das aprendizagens, alguns destes novos alunos exigirão acompanhamento noutras áreas, nomeadamente a nível emocional e psicológico, tendo em conta as vivências recentes, inimagináveis e aterradoras, que os afastaram dos seus familiares e amigos, das suas cidades e das suas escolas, muitas agora reduzidas a um monte de tijolos, devida à perfídia e barbárie de quem quer mais poder e servilidade.
Nós, portugueses, temos o dever de acolher e cuidar destas crianças e jovens, apontando-lhes um futuro mais risonho, proporcionando-lhes as condições para que continuem a sonhar com um mundo (muito) melhor.
O agrupamento de escolas que dirijo recebeu esta semana dois jovens ucranianos matriculados nos 3.º e 4.º anos de escolaridade. Recebi-os e à sua mãe para lhes dar as boas-vindas e apresentar o plano de trabalho/intervenção delineado, convidando-os para conhecer o pavilhão gimnodesportivo, onde puderam interagir com alunos mais velhos e envolver-se com entusiasmo no desporto que praticavam no seu país - hóquei em campo.
Uma turma do 5.º ano estava em Educação Física no campo de jogos exterior de que a escola dispõe e, à passagem, na companhia da mãe, exibi a bandeira da Ucrânia aos alunos que, de imediato, numa manifestação espontânea e surpreendente, entoaram em coro e repetidamente a palavra Ucrânia. Foi um ato sublime, um momento marcante, que culminou numa efusiva salva de palmas à progenitora, visivelmente comovida e agradecida. Que lição deram os nossos alunos!
Realço a elevada consciência cívica dos jovens portugueses, que demonstram marcado sentido humanista e capacidade para incluir o seu próximo, que me fazem orgulhar dos valores e atitudes que a Escola Pública fomenta e que estes praticam de modo comprometido e solidário.