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Depois de um ano de estádios vazios, competições canceladas ou modificadas, atletas parados e uma incerteza total, espera-se um 2021 bem melhor. Mas não será assim tão depressa.
A pandemia entrou nas nossas vidas e, apesar do salto histórico que representa encontrar uma vacina em tempo recorde, o novo coronavírus vai ainda permanecer mais algum tempo por aí. O que significa que, no caso concreto do futebol, muito do que condicionou a sua existência até agora irá prolongar-se pelo resto da temporada.
Este é um campeonato tão diferente de todos os anteriores que nem vale a pena arriscar comparações. Olhemos, portanto, para o que ele tem sido e, dentro do possível, equacionar o que ainda poderá ser.
O Sporting é a principal surpresa, não apenas porque, no início da época, poucos apostariam numa liderança ao cabo de 11 jornadas, mas também porque o falhanço da entrada na Liga Europa não surgia como um bom indicador.
Mas o facto é que Rubem Amorim soube aproveitar o cenário, ao ganhar tempo (um jogo por semana), para trabalhar as suas ideias e potenciar as boas contratações que o clube fez. Ora, é exatamente o novo ano que altera esta cadência, colocando os leões num andamento de partidas igual às que Benfica, FC Porto e Braga viveram até ao momento.
E, por ironia do calendário, começa 2021 com um desafio de exigência elevada. O Braga desloca-se a Alvalade para o jogo grande da jornada, logo, um teste sério à capacidade do líder, porque os arsenalistas têm mostrado, à medida que a temporada avança, que as qualidades de Carlos Carvalhal e dos jogadores estavam mesmo lá.
Aliás, convém estarmos muito atentos a este mês de janeiro. Não apenas pelo número de jogos que se abate sobre o quarteto da frente - são as únicas equipas acima dos 20 pontos -, mas igualmente pelas várias competições em que alinham (campeonato, "final four" da Taça da Liga e Taça de Portugal) e pelos duelos agendados entre os quatro que, sabe-se, têm consequências emocionais que não podem ser ignoradas. E o primeiro frente a frente é já.
Claro que Benfica e FC Porto são também partes interessadas do que resultar da partida de Alvalade. Quando entrarem em campo já serão conhecedores do desfecho, embora isso não altere a necessidade absoluta de somarem três pontos. Ajuda, sim, a perceberem o enquadramento em que se podem encontrar no final da ronda.
O Benfica, perseguidor mais perto dos leões, vai iniciar agora um ciclo durante o qual tem de mostrar bastante mais do que aquilo que se tem visto. Jorge Jesus está refém de algumas afirmações que, nesta altura, não o estão a ajudar. Quando se diz que a equipa "vai jogar o triplo" ou mesmo que pode "arrasar" é difícil supor que tais garantias não venham ser cobradas.
O encontro com o Santa Clara - equipa que, não sendo fantástica, tem os seus argumentos - talvez contribua para se perceber que caminhos quer, afinal, o Benfica trilhar. E, sobretudo, como conseguirá ultrapassar as suas debilidades (expressas, principalmente, no processo defensivo), de forma a evitar que acabe a partida com "medo de não ganhar" como sucedeu recentemente com o Belenenses SAD.
Já o FC Porto é, teoricamente, o elemento do quarteto-vip com a tarefa menos complexa. Jogar em casa com o Moreirense é uma daquelas situações em que falhar o triunfo seria surpreendente. E muito penalizador.
Os dragões, recorde-se, foram aqueles que - de longe - melhor souberam lidar com todas as adversidades ditadas pela pandemia em 2020. Ganharam campeonato, Taça de Portugal e Supertaça e, nesta fase, parecem estar a readquirir um novo balanço, notório no desafio empolgante em Guimarães que se seguiu à conquista de Aveiro.
Uma das grandes virtudes de Sérgio Conceição, enquanto treinador, tem sido, a par da determinação que assume até ao limite, o facto de procurar manter equilíbrios no funcionamento da equipa mesmo que, por vezes, não seja simples. Pondo as coisas de outra forma, com ou sem Pepe, com ou sem Otávio, o técnico tenta virar o que tem "menos" em soluções, naquilo que até aparenta ser "mais".
Seja como for, esta é a primeira jornada do novo ano, quando temos quatro equipas com distâncias pontuais muito pequenas e um longo caminho para percorrer. Reafirmo a minha convicção de que janeiro vai ser muito importante para clarificar algumas coisas, embora seja legítimo que 2021 se torne num ano de novas esperanças para todas as formações envolvidas. As razões podem ser diferentes, mas todas elas acreditam que conseguem lá chegar.