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Ouagadougou, muito provavelmente não lhe dirá nada, mas a distância entre Faro e a capital do Burkina Faso, a desconhecida e "distante" Ouagadougou, é praticamente a mesma entre Faro e Amsterdão. Dito desta forma, já não parece assim tão distante, não é?
O binómio Mali/Burkina, países do Sahel Ocidental, têm assistido a avanços jihadistas significativos, desde a retirada do contingente militar francês (Operação Barkane), em Novembro de 2022. Desde então, tem-se assistido a uma deslocalização dos acampamentos jihadistas para a periferia das capitais, respectivamente Bamako e Ouagadoudou.
Serve a presente introdução para assinalar a morte, domingo 29 e segunda-feira 30 de 28 burquinabés, militares e civis em Falagountou, no norte, junto à fronteira com o Níger, em dois ataques jihadistas distintos e coordenados. A concentração de terroristas nos arrabaldes de ambas as capitais, não tem como finalidade a invasão das mesmas, antes obriga a uma concentração de militares e polícias nas capitais, deixando espaço livre para acções jihadistas de bate-e-foge no restante território.
Este cenário muito provavelmente agravar-se-á ao longo deste ano, provando a inabilidade das Juntas Militares que governam estes países, após os golpes militares de 2020 no Mali e 2021 no Burkina. Provando-se a incapacidade destes e perante o apoio russo aos mesmos, por via da presença Wagner em ambos os territórios, a França/União Europeia (UE) serão obrigadas a regressar em peso a estes territórios, certamente num modelo diferente da Barkhane, exclusivamente francesa. A esboçada "Task Force Takuba", que deveria ter reciclado a "Barkhane francesa" num contingente multinacional da UE, retirando assim o peso negativo da presença de fardas do ex-colonizador em territórios há muito libertados e soberanos. Por outro lado, a Força Takuba a ser activada, servirá de balão-de-ensaio no terreno para a constituição de desejado Exército Único Europeu, disputado na iniciativa entre franceses e alemães. A acontecer, será África a alavancar mais um diferendo de fundo europeu, já que a maioria dos países da UE não concorda com esta ambição federal franco-alemã. A periferia, diz assim ao centro que se encontra confortável no registo da Confederação, rejeitando mais uma perda de soberania na construção dos Estados Unidos da Europa!
A Acontecer / A Acompanhar
- 02 de Fevereiro, lançamento do livro "Dicionário de Português-Árabe", de Abdeljelil Larbi e Délio Próspera. Casa do Alentejo, às Portas de Santo Antão, Lisboa, 18h.
Raúl M. Braga Pires, Politólogo/Arabista, é autor do site www.maghreb-machrek.pt (em reparação) e escreve de acordo com a antiga ortografia.
