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A Comissão Parlamentar de Inquérito à gestão da TAP tem sido muito importante por revelar uma forma do poder político lidar com as empresas públicas que não pode de todo ser aceitável. A lista de pecados é infindável e inclui indemnizações milionárias, negócios com familiares e amigos, tentativas de desvio de aviões, audições parlamentares combinadas...
Do primeiro dia até esta quarta-feira, a comissão foi presidida pelo deputado socialista Jorge Seguro Sanches e isso não impediu que ela apresentasse resultados que beneficiam o interesse político da oposição e prejudicam o interesse do PS e do governo.
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Até ao momento em que a CPI se transformou no Alfa e no Ómega da política nacional e para lá se procurou transportar toda a tensão da crise política, ter Seguro Sanches a liderar os trabalhos daquela comissão não era problema. Mas, num país viciado em telenovelas, o deputado do PSD Paulo Moniz quis fazer-se notado. Se, como diz Seguro Sanches, foi posta em causa a sua seriedade, fez bem em bater com a porta. Sob pena de, aceitando o insulto, deixar que a comissão a que presidia se transformasse numa luta na lama.
Como cidadão que vota e contribuinte que paga impostos, eu gostava de ver o deputado Moniz responder ao conteúdo da carta de Seguro Sanches. Se a questão que levou a pôr em causa a condução dos trabalhos foi a a falta de tempo para inquirir um ex-acionista da TAP, o que explica que a grelha de tempo contestada tenha sido utilizada em 80% das audições e em todas elas o tempo disponível não tenha sido utilizado? Se o tempo previsto para a comissão parece curto, o que impediu que os deputados trabalhassem também à segunda e sexta-feira como propôs o presidente da CPI?
Imagino que a pressão a que o deputado do PS esteve sujeito desde o primeiro dia viesse quer da oposição, quer do seu próprio partido. Uma comissão parlamentar de inquérito tem sempre uma carga política muito grande e é normal que os interesses conflitantes gerem tensão. O que são absolutamente dispensáveis são os julgamentos de carácter. Tanto mais que o PSD não precisa de inventar conflitos processuais para tirar proveito político daquela comissão. Quem quer ser respeitado, dá-se ao respeito. Não é assim, senhor deputado Paulo Moniz?