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Daniel Oliveira considera que as medidas de apoio às famílias para combate à escalada de inflação e crise energética agravadas pela guerra na Ucrânia "são quase todas pontuais".
No seu espaço de opinião semanal na antena da TSF, o comentador lamenta que a apresentação do pacote de apoios tenha tardado." Já em abril o primeiro-ministro dizia que isto era um pico temporário. E porque cada mês que passasse era mês em que o Governo acumulava as vantagens fiscais da inflação, sem socorrer quem se afunda com ela".
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Com o apoio para os trabalhadores, o Governo tenta "reduzir a pressão para quaisquer aumentos salariais", depois de "uma brutal perda nos salários reais" da função pública. E nem o indexante dos apoios sociais é revisto.
Para os pensionistas, "o que parece uma boa notícia, é uma péssima notícia": vão receber mais dinheiro agora, mas ficam a perder em janeiro, não vendo a sua pensão acompanhar de forma estrutural a inflação".
Em vez de receberem um aumento de 7 ou 8% em janeiro, vão receber apenas 4,5%. "O Governo não deu, adiantou um pouco para tirar depois".
Na opinião de Daniel Oliveira, a estratégia do Governo é clara: "impedir que pensões e salários acompanhem a inflação. Mas como o dinheiro vem já, sentimos que recebemos".
Mais uma vez, espera-se que seja a contenção das pensões e salários a travar a inflação: "é injusto e inútil". Isto quando ambos pouco contribuem para a subida dos preços, ao contrário do que acontece noutros países, onde as medidas anunciadas têm "efeitos bem mais intensos nos rendimentos".
Como distribuir um bolo que se tornou mais pequeno? Com estas medidas, a distribuição torna-se "ainda mais desigual", lamenta o comentador.
Daniel Oliveira concorda com a redução de impostos sobre a energia, mas defende que as empresas que estão a cavalgar a inflação para ter lucros acima do normal deviam ser taxadas.
O Governo não precisa de "enganar o pagode com falsos aumentos de pensões para controlar a despesa, pode chamar quem está a ganhar com a inflação e contribuir para o financiamento deste pacote que será suportado pelo contribuinte comum."
No entanto, tudo indica que imposto extraordinário sobre lucros inesperados não seja aplicado em Portugal. Bastou a sua menção "para se gritar que vinha aí o PREC".
Esta foi uma medida adotada por outros países, destacando-se ainda, na opinião de Daniel Oliveira, a redução das tarifas de transportes na Alemanha ou a bonificação nos passes de proximidade em Espanha.
Para o comentador, uma das únicas "notícias decentes" é o teto do máximo para aumento das rendas a 2%. No geral, considera, este é um pacote "pífio quando comparado com os restantes países europeus".
"No caso dos salários, o Governo põe o Estado a substituir os patrões. No caso das pensões recorre a um truque para parecer que dá o que está a tirar. E essa é a marca de ilusionismo que António Costa deixa neste primeiro pacote de medidas."
Texto: Carolina Rico