"A Opinião" de Nádia Piazza, na Manhã TSF.
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Há momentos na vida em que temos a nítida sensação de que estamos a testemunhar um facto histórico. O grande debate que se abriu a propósito das presidenciais no Brasil foi um desses raros casos. Resta-nos deixar agora que a história se escreva por si própria, torcendo do lado de cá para que seja num cenário de grande tolerância e bom senso.
Se há tempo em que é preciso uma oposição responsável, será agora. Isso, juntamente com instituições a servir de freios e contrapesos. O medo, a ignorância, por ventura, e o sentimento de "encurralamento" podem fazer nascer ditadores, mas são as reações em igual tom que os entronizam.
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Importância igual ter-se-á dado aquando das eleições nos EUA e a subida de Trump ao poder. Foi de facto uma surpresa, sobretudo depois dos governos de Obama e de tudo o que simbolizava em termos de evolução da consciência cívica - negro, de descendência africana, de nome Obama, que sempre me lembrou Osama, o seu maior troféu. Aquele que buscou reformas políticas importantes, mas encontrou no Congresso o seu maior obstáculo.
E mesmo assim Trump chegou e vingou, ao contrário das vontades progressistas da Europa.
Quando é que a Europa vai perceber que já não tem grande pio noutros poleiros? A Europa tem um problema bem mais próximo e importante. Salvini que o diga.
Retrocesso ou é da ordem natural das coisas dar um passo à frente e dois atrás?
Retrocesso ou avançava-se para além da compreensão e aceitação dos governados?
Por mais importante que sejam os temas fraturantes trazidos à tona com as eleições no Brasil ou noutro lado qualquer, Portugal tem em mãos por esses dias o seu Orçamento de Estado para 2019.
Andamos a assistir a uma novela brasileira em horário nobre.
Portugal vive um tempo de importantes escolhas e com um magro mealheiro.
Em que cada palavra conta. Por detrás de cada promessa, uma expectativa - não fosse a política a arte de lidar com as expectativas.
Em traços largos, e afora considerações de maior ou menor mérito nas opções que cabe a quem governa tomar e as justificar, Portugal continua a resgatar de forma obscena instituições financeiras em detrimento de áreas como a saúde, educação, segurança e um crescimento sustentável. É a minha opinião e espanta-me que assim seja.
Agora, a propósito do último Conselho de Ministros, dedicado à Floresta e à Proteção Civil, queria deixar um sinal positivo aos trabalhos desenvolvidos.
Nesse que é o Dia de Finados, em muitas regiões deste país, famílias relembram de forma particularmente sentida os mais de 116 mortos vítimas dos incêndios florestais que assolaram Portugal em 2017.
Assim, o Governo faz por executar as recomendações da Comissão Técnica Independente, cuja estratégia foi preparada durante meses pela Estrutura de Missão para os Fogos Rurais e diversos Ministérios.
Agora resta ao Governo por em marcha os diplomas de execução e fazer-se ao terreno, não cedendo às pressões em ano de eleições e com um verão a meio.