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Nestes dias de inflação e outros jargões complicados para a maioria das pessoas, vimos esta semana anunciados apoios às famílias para enfrentar os problemas deste ciclo económico em que sobem os preços.
As razões desses aumentos de preços são muitas e variadas. Algumas justificáveis, outras, convenhamos - puro aproveitamento.
Assim o vemos nos combustíveis. Algum espirro que alguém dá algures no mundo, e eles sobem. Para descerem de novo, é já o mais difícil.
Este produto é um mau exemplo da minha parte, pois quanto mais rápido os combustíveis fósseis forem passado, melhor será para o mundo e para todos nós. Oxalá que a atenção mediática que os jovens deram às alterações climáticas nas sextas-feiras pelo futuro volte rapidamente.
Outros produtos que não se contagiam por custos de transporte ou custos de estrutura como a escassez da água, têm subido também e muito.
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Há produtos que vão à boleia e sobem por nada, sobem porque as pessoas não têm alternativa e compram, têm de comprar na mesma e quem os vende sabe-o.
Há por isso, muita gente a ganhar e a lucrar muito com a inflação.
Apelo, no entanto, a essas pessoas e ao governo que atentem no seguinte:
Ontem numa breve paragem num supermercado para comprar pão e alguns legumes entre outros alimentos, a conta esteve perto dos 30€ quando há algum tempo não passaria muito de 15€. Ao conversar sobre isso com a pessoa na caixa, ela respondeu-me que nestes dias vai buscar aquilo de que necessita em casa e coloca os produtos por ordem de prioridade. Quando a conta atinge o limite do que ela pode pagar, o resto fica e não compra.
Esta pessoa trabalha, não faz parte dos números da taxa de desemprego atualmente baixa.
Isto tem de nos fazer pensar e agir pois muitas pessoas já vivem em espírito de recessão, reduzindo o que compram a quantidades abaixo dos bens essenciais de que necessitam.
Vivemos numa economia que mata - citando o Papa Francisco. Uma economia que para conseguir um rico, necessita de construir 10 pobres. Por outro lado, vivemos numa economia que não premeia o esforço e o mérito e que passa por cima do que tiver de passar para obtenção de lucro.
Algum discurso político-partidário mais sonoro tem sido o da demonização das empresas, sem lhes reconhecer e promover a sua função social, ou o do liberalismo puro em que o mercado se regula a si próprio e as regras da oferta e procura definem tudo.
Nada disto é simples e muitas empresas adiantaram-se mesmo ao governo e tentam compensar e apoiar os seus funcionários a enfrentar os desafios da inflação. Outras não, aproveitam esta onda para guardar tudo para si e acumular lucros eticamente questionáveis face às dificuldades porque passam os seus colaboradores.
Não podemos cansar-nos de sonhar uma economia que esteja ao serviço das pessoas, de todas as pessoas e que proporcione meios e mecanismos para que todas as pessoas tenham os seus direitos humanos garantidos e neles muito especificamente os direitos económicos.
Ao lado do cifrão do euro, não podemos esquecer nunca aquilo que tem de estar acima, as pessoas, a vida humana. É em torno delas, das pessoas que a economia e a política têm de circular.
A economia ao serviço das pessoas, nunca o contrário.
