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Como todas as organizações, "os partidos são bolhas", começa por dizer Daniel Oliveira, no espaço habitual de Opinião da TSF. "Os partidos em crise tendem a ser bolhas cheios de cegos lá dentro", acrescenta o jornalista.
Daniel Oliveira acredita que "qualquer pessoa com o mínimo de discernimento percebia que as frases de efeito e as citações a metro de Francisco Rodrigues dos Santos poderiam inspirar adolescentes e levá-los a inscrever-se numa Jota não chegariam para liderar um partido que fundou a democracia portuguesa", e que "não é por acaso que o líder do CDS nunca deixou de ser conhecido como Chicão". Não é uma questão de idade, mas de estatuto político, argumenta o cronista.
O caminho do CDS nunca poderá ser o da radicalização.
No entanto, o problema do CDS não assenta apenas no "casting"; se assim fosse, "talvez chegasse a sua substituição por Nuno Melo". Nuno Melo chegaria se a única crítica a apontar ao CDS fosse o perfil do líder, apesar de apostar na mesma estratégia de "radicalização do partido", explica o jornalista. Para esse tipo de condução do CDS, Nuno Melo seria mais eficaz, considera Daniel Oliveira.
"O caminho do CDS nunca poderá ser o da radicalização", garante o jornalista, lembrando o tempo em que Paulo Portas se dedicava a discursos sobre o RSI, de crimes e de imigrantes, "prometendo uma direita forte". Daniel Oliveira assinala que a estratégia de Portas permitia distinguir o CDS do concorrente "hegemónico": o PSD. "Não o fez para ficar parecido com um concorrente em crescimento, que agora é o Chega."
Uma coligação entre PSD, CDS e Iniciativa Liberal, liderada por um nome forte do CDS, com a esquerda fragmentada, é a única esperança de uma boa notícia para a direita nos próximos tempos.
Daniel Oliveira diz não ter a certeza de que o CDS vá a tempo de corrigir "o erro" em que incorreu há um ano. "O Chega já se impôs e a Iniciativa Liberal já começou o seu caminho. A aliança negociada com Rui Rio pode ser a única forma de impedir que o PSD eleve os quadros autárquicos e o Chega tente pescar os que sobrarem."
Todos os esforços serão "inúteis" se o partido não aproveitar "o único património que lhe resta": o segundo lugar em Lisboa e a inexistência de candidatos credíveis do PSD, analisa o jornalista. "Compreende-se que Rodrigues dos Santos não goste de valorizar esse património. Foi-lhe dado pela sua antecessora, Assunção Cristas." Não tem mais nada, segundo o cronista.
[Mesquita Nunes] daria um resultado extraordinário ao CDS? É provável que não.
"Uma coligação entre PSD, CDS e Iniciativa Liberal, liderada por um nome forte do CDS, com a esquerda fragmentada, é a única esperança de uma boa notícia para a direita nos próximos tempos. É por isso que Adolfo Mesquita Nunes tem de vir com a mesma disponibilidade para avançar para a liderança do CDS, para fazer o que fez Assunção Cristas: concorrer à Câmara de Lisboa." Mais do que Cristas, Mesquita Nunes é o candidato "ideal" para os eleitores de Lisboa, analisa Daniel Oliveira. No entanto, a nível nacional, nada seria fácil. "[Mesquita Nunes] daria um resultado extraordinário ao CDS? É provável que não." É "demasiado liberal para um eleitorado conservador", esclarece o jornalista. Aliás, o eleitorado mais à direita pode estar "irremediavelmente perdido".
Como liberal, Mesquita Nunes é muito mais credível do que Cotrim de Figueiredo; tem mais currículo, tem mais talento e tem mais partido.
Mas Mesquita Nunes "seria bom" para conquistar alguns eleitores ao PSD que não acredita em Rio e "para secar a Iniciativa Liberal", o que é "mais fácil" do que acompanhar o radicalismo do Chega. "Como liberal, Mesquita Nunes é muito mais credível do que Cotrim de Figueiredo; tem mais currículo, tem mais talento e tem mais partido", sustenta o jornalista.
"O CDS já não vai a tempo de matar o Chega, mas ainda vai a tempo de absorver o eleitorado da Iniciativa Liberal e muitos descontentes do PSD. É suficiente para voltar aos melhores tempos de Paulo Portas? Não, mas pode ser o suficiente para sobreviver. Por agora, é isso que resta ao CDS."
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* Texto redigido por Catarina Maldonado Vasconcelos