Foi com um misto de expectativa e perplexidade que ouvi o ministro da Coesão Territorial referir-se, há poucos dias, ao tema que só aparece no espaço público nacional quando há labaredas e imagens de aflição espalhadas por todo o lado. No final de uma sessão promovida pela CCDR-N em Ponte da Barca, disse Castro Almeida que é urgente encontrar soluções para os incêndios e para isso sugere uma receita aparentemente simples: os vários interlocutores "juntam-se numa tarde à porta fechada e só saem quando o assunto estiver resolvido".
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O misto de sentimentos que refiro explica-se com facilidade. Expectativa, porque tem chovido com abundância, esta é aquela altura do ano em que quase todo o país se esquece do tema dos incêndios e é sempre positiva a novidade de o ver na agenda pública. Perplexidade, porque parece algo leviana a tentativa de resolver numa tarde um assunto tão complexo para o qual andamos há décadas sem conseguir resultados palpáveis. Já tivemos o livro branco dos incêndios florestais, o livro verde a nível europeu, comissões eventuais, comissões técnicas, propostas elaboradas por consultoras, planos de defesa da floresta, uma empresa pública de meios aéreos entretanto extinta, enfim, um sem número de propostas e modelos de coordenação que têm tido em comum a falta de eficácia.
Claro que a intervenção do ministro da Coesão Territorial tem um contexto que ajuda a percebê-la. A partir de um projeto-piloto dentro do Parque Peneda-Gerês, Castro Almeida lança alguns recados ao Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, muitas vezes defensor de modelos restritivos que protegem a paisagem, mas esquecem as pessoas.
Percebe-se a intenção, mas este contexto não apaga a responsabilidade óbvia que o próprio ministro tem. Mais do que enviar recados, cabe ao Governo dar instruções claras aos organismos que tutela. E procurar, não apenas para a região Norte, mas transversalmente para o país, as respostas que incumbiu o presidente da CCDR-N de encontrar.
Se é preciso fechar os responsáveis setoriais numa sala, vamos a isso. Procure-se uma estratégia centrada nas pessoas, porque é a partir delas que se faz a gestão das florestas e dos territórios. Em milagres e soluções súbitas ninguém acredita. Mas já não será mau ver um Governo apostado em investir na metade mais esquecida do país.
