É evidente que para o governo do Partido Socialista se torna cada vez mais difícil negociar com os seus parceiros de esquerda medidas adicionais, se elas forem necessárias este ano.
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Pela forma como governo geriu a história das sanções, não há dúvida alguma que obteve uma vitória. A forma como o primeiro-ministro, ontem mesmo antes da reunião dos comissários, traçou um cenário negro, revelou uma gestão política de expectativas que ainda valorizaram mais a vitória conseguida.
Mas a vida é o que é e a política faz-se com muita retórica. Ora, se a oposição dizia que era a governação de esquerda que estava em causa e a coligação de esquerda garantia que a haver sanções seriam contra Portugal por culpa do anterior governo, e se a pistola continua apontada, o governo deixa a partir de agora de ter álibi.
Portugal não pode apresentar pela segunda vez a mesma desculpa, a de que faz sacrifícios e falha por poucochinho. Este ano o défice tem mesmo de ficar abaixo dos 3% do PIB e quanto mais se afastar dos 2,5% aceites por Bruxelas (acima dos 2,2% previstos pelo governo) maior será a pressão colocada sobre o orçamento de 2017.
É evidente que para o governo do Partido Socialista se torna cada vez mais difícil negociar com os seus parceiros de esquerda medidas adicionais, se elas forem necessárias este ano, como é evidente que uma Comissão e um Conselho europeus divididos tornam mais difícil a relação do governo português com as instituições comunitárias. Quem era a favor de sanções desde já, vai aumentar o grau de exigência, jamais aceitará um segundo perdão se o défice voltar a derrapar.
Está mais do que provado que vale a pena falar de igual para igual numa União que se quer solidária, mas também exigente. Como disse o ministro dos Negócios Estrangeiros, a anulação das sanções mostra que vale a pena cumprir as regras europeias. Esta mensagem só pode ser um recado para os parceiros à esquerda. Terão eles percebido o que lhes disse Augusto Santos Silva?