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Não, não acreditem nisso. A cada revolução industrial ou transformação tecnológica, os receios tomam conta até dos melhores. Receosos do futuro, os trabalhadores preferem, muitas vezes, tentar parar o vento com as mãos. Ao tentarem esse ato inútil, apenas aumentam a sua frustração e passam a fazer parte do problema em vez de estar do lado da solução.
Se olharmos para a revolução nos media, no passado muitos acreditaram que a televisão iria matar a rádio ou que o online iria acabar com os jornais e as revistas e eles estão todos aí, cada um com o seu papel, a sua voz e o seu público-alvo. O que fizeram foi aliar os meios analógicos aos digitais, num casamento quase perfeito, mas em mutação constante.
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Nem tudo tem de ser só preto ou só branco. Na evolução de uma cor para outra atravessa-se o cinza, essa cor industrial do aço e da massa cinzenta que leva os seres humanos a evoluir.
Em matéria tecnológica, hoje abundam os receios em relação ao uso da inteligência artificial (IA). Alguns desses medos são fundamentados, mas outros nem tanto. Os empregos não vão todos os acabar, mas vão, isso sim, ser escolhidos a dedo pelo seu valor acrescentado e pela sua criatividade.
O valor dos trabalhadores autómatos poderá reduzir-se, já o dos criativos e estrategas prevalecerá fulcral no crescimento das organizações. As máquinas de inteligência artificial podem ser uma espécie de "prótese cognitiva", ou seja, uma extensão de cada um de nós com novas competências e funcionalidades.
Essa "prótese cognitiva", como lhe chama Fernando Pereira, vice-presidente da Google DeepMind em entrevista à TSF, pode fazer a diferença na produtividade e competitividade da própria economia. Essa "prótese" pode somar valor aos conhecimentos já adquiridos, de preferência para serem usados para o bem, como por exemplo nos diagnósticos de cancro da mama, que afetam mais de 2 milhões de mulheres em todo o mundo.
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A inteligência artificial não pode é servir de arma para a proliferação de fake news, manipulação de eleições ou de cenários de guerra, seja na Ucrânia ou em Israel. Sem parar o vento com as mãos, porque a evolução tecnológica vai continuar, e isso é seguro, é necessário melhorar a regulação para que se estabeleçam fronteiras entre o bom e o mau uso, entre a opacidade e a veracidade, sempre com responsabilidade.
A União Europeia já começou esse caminho, mas não vão bastar regras para o velho continente uma vez que se trata de um risco mundial. Ainda assim, é um primeiro passo. A prioridade do Parlamento Europeu é garantir que sistemas de IA utilizados na UE sejam seguros, transparentes, rastreáveis, não discriminatórios e respeitadores do ambiente. Mais: os sistemas de IA devem ser supervisionados por pessoas, em vez de serem automatizados, para evitar resultados prejudiciais.
Mais do que saber se os trabalhos vão acabar ou mudar por causa dos robots ou da inteligência artificial, são estas as verdadeiras fronteiras que nos devem preocupar enquanto seres humanos.