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O surgimento da pandemia (março de 2020) catapultou a expressão "Vai ficar tudo bem!" de forma viral, à boa maneira do melhor dos slogans, aparecendo em diversos lugares pelos mais variados motivos, sobressaindo o apelo à assertividade de serem assumidos comportamentos protetivos, nomeadamente o de permanecer em casa.
O valor profético e motivador que lhe está inerente envolveu-nos numa onda de esperança, necessária para enfrentar uma nova realidade desconhecida de todos, dando alento para enfrentar os meses (anos...) que se avizinh(av)am e que vieram a mudar as vivências de todos nós de uma forma inimaginável. O uso (obrigatório) das máscaras, a desinfeção constante das mãos, o confinamento, o isolamento, a testagem, a vacinação, as bolhas, o proibição ou desaconselhamento dos ajuntamentos, o ensino remoto de emergência (ensino a distância), entre tantas outras medidas, são práticas correntes do nosso dia a dia a que nos fomos habituando.
As escolas não só cumpriram a sua função, como, ao longo do tempo, extravasaram o limite das suas competências, nomeadamente na área da saúde.
E uma vez mais, tomaram a dianteira.
Percebendo a inação da Direção-Geral da Saúde na testagem dos discentes, neste período letivo, ao contrário do passado trimestre, em parceria com a Associação Nacional das Farmácias, a Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas, abriram as portas à iniciativa que teve início na presente semana, e que ganhará mais força nos próximos dias.
A Escola, não se querendo substituir à Saúde, dá um excelente exemplo dos cuidados que presta aos seus alunos. Independentemente dos números de infetados, que se avolumou nos últimos dias, os encarregados de educação perceberam a importância desta ação e contribuíram para o sucesso da mesma, autorizando e fomentando a participação dos seus educandos.
E...ficará tudo bem?
O esforço heróico que professores, diretores e técnicos especializados (psicólogos, educadores e assistentes sociais, mediadores de conflitos, etc.) se encontram a empreender, indicia comprometimento na recuperação das aprendizagens e, principalmente, uma efetiva e essencial monitorização da saúde mental dos discentes, penalizados pelas consequências do ensino remoto de emergência, com epicentro no bem-estar emocional, pela escassez dos relacionamentos interpessoais (socialização), que interferiu de modo nefasto em quem está em fase de pleno desenvolvimento.
Pelo papel relevante que desempenham na sociedade, é fundamental que aumentem o investimento nas escolas, locais seguros, benquistas pelos jovens, que lá encontram, quantas vezes, um porto de abrigo e onde todos importam.
O poder político tem obrigação de perceber a irrelevância acrescida que a Escola Pública adquiriu nestes últimos anos, alavancada pelas múltiplas funções que desempenha para além de ensinar, principalmente nas áreas social e da saúde, frequentemente sem acréscimo de recursos humanos e materiais.
Os profissionais das escolas trabalham para que tudo fique bem, mas o impulso imprescindível ao seu esforço carece do incremento de apoio concreto e legítimo, contribuindo para a felicidade dos mais jovens e a motivação de quem todos os dias pretende o progresso de Portugal.