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Tem sido uma semana de festa da paz em Lisboa. O Papa Francisco trouxe um ar fresco e solidário a uma cidade que tem vivido entre o frenesim do trabalho, do trânsito, do turismo e das dificuldades em encontrar habitação ou pagar a prestação ao senhorio ou ao banco. Inebriados pela celebração da paz e da juventude, a capital e o resto do país não esquecem, no entanto, os restantes problemas do dia a dia.
Esta sexta-feira, a taxa Euribor subiu, de novo, a três e a seis meses, no prazo mais curto para um novo máximo desde novembro de 2008. A pressão que a inflação e as taxas de juro estão a fazer sobre a carteira das famílias, bem como os preços dos combustíveis que voltaram a subir esta semana, coloca em risco muitos lares. A chamada classe média deixa de gozar férias fora de casa ou encurta o período em que goza o descanso. No Algarve, por exemplo, são vários os hoteleiros que já lamentam a menor quantidade de famílias portuguesas presentes em hotéis e aldeamentos ou, noutros casos, as estadias encolheram de uma média de sete noites para duas ou três. Já as mais necessitadas recorrem cada vez mais à ajuda de instituições como o Banco Alimentar e outras que, de forma solidária, apoiam quem mais precisa.
Em Portugal, o Papa pediu às instituições de caridade que não tenham nojo da pobreza. Francisco chegou a dizer aos responsáveis dessas organizações que se questionem se têm nojo da pobreza, desafiando-os a sujar as mãos. "Tenho nojo da pobreza, da pobreza dos outros?", perguntou, no encontro com representantes de centros de assistência sócio-caritativa, no Centro Social Paroquial São Vicente de Paulo, na Serafina, em Lisboa.
Na Jornada Mundial da Juventude (JMJ), o líder da Igreja Católica destacou a importância de concretizar a ação caritativa e atirou, em jeito de provocação: "Não há amor abstrato, não existe. O amor platónico está na órbita, não está na realidade", referiu, para destacar o "amor concreto, esse que suja as mãos". Francisco perguntou mesmo se, quando dão a mão a uma pessoa necessitada, doente ou marginal, a lavam de seguida, para não ficarem contagiadas com a pobreza. O líder da Igreja Católica criticou ainda as "vidas destiladas e inúteis que passam pela vida sem deixar marca, porque a sua vida não tem peso".
Deixar marca, é para isso que cá andamos. Nós, enquanto indivíduos, e nós enquanto Jornalistas. Tal como a juventude "gera vida nova continuamente", como disse o Papa, também acredito que o jornalismo gera democracia continuamente, alimentando-a de forma saudável. A todos os jovens e a todos os jornalistas, e usando as palavras do Santo Padre, "sigam em frente e não desanimem. "E se desanimarem, tomem um copo de água e sigam em frente", disse o Papa, provocando uma gargalhada na assistência. E rir ainda é o melhor remédio para enfrentar ventos e marés. Bom domingo e boa jornada.