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À distância, as escolas terminaram o 2.º período e iniciaram a última etapa do ano letivo 2019-2020, imposta pelo estado de emergência face ao acontecimento do século. Aguarda-se, ainda, decisão do primeiro-ministro sobre a reabertura das escolas aos alunos e professores dos 11.º e 12.º anos de escolaridade.
De acordo com o plasmado na Portaria n.º 359/2019, de 8 de outubro, "A modalidade de ensino a distância constitui uma alternativa de qualidade para os alunos impossibilitados de frequentar presencialmente uma escola, assente na integração das tecnologias de informação e comunicação (TIC) nos processos de ensino e aprendizagem como meio para que todos tenham acesso à educação.[...] A flexibilidade de tempo e de lugar proporcionada pelo ensino à distância permite que cada aluno desenvolva o seu percurso educativo e formativo ao ritmo que melhor se compatibiliza com a vida pessoal, familiar e escolar."
E eis que a pergunta se impõe: será possível transpor o normativo para os lares de todos os nossos alunos... de Todos? Não! Em muitos esta modalidade ainda se constitui uma utopia!!!
Porque recorre a ferramentas digitais, mais comummente, a um computador com ligação à internet, a ausência de milhares destes aparelhos nos lares dos portugueses, bem como a necessidade de reforçar o seu número no caso em que os encarregados de educação se encontram em teletrabalho, restringe, sobremaneira, a atividade desenvolvida pelos docentes e as aprendizagens destes alunos.
A Escola Pública não se permite deixar ninguém para trás, querendo todos ligados ao processo ensino-aprendizagem, mesmo nas atuais circunstâncias!
Tendo assumido como objetivo "iniciar o próximo ano letivo assegurando o acesso universal à rede e aos equipamentos a todos os alunos dos ensinos básico e secundário", o governo vai além da atribuição de um computador por discente, de acordo com explicação de António Costa no final do Conselho de Ministros de 9 de abril, reiterada na entrevista à Lusa dois dias depois.
Na expectativa de perceber como o anunciado se irá concretizar, os diretores das escolas têm trabalhado no sentido de ceder computadores ao número máximo de alunos possível, contando, para o efeito, com os apoios inestimáveis das autarquias locais, entidades públicas e privadas e de toda a sociedade civil, numa união de esforços no evitamento de desigualdade de oportunidades para aceder ao novo processo educativo. Se estou convicto que o constrangimento inicial foi reduzido neste derradeiro período, também não me restam dúvidas que ainda milhares de alunos não terão acesso a computadores até ao final do ano letivo.
Para suprir esta barreira, as escolas adotaram mecanismos tradicionais, desde o material impresso, excecionalmente com a entrega domiciliária das tarefas pedagógicas propostas pelos professores, ao acompanhamento telefónico, de modo a preservar a cumplicidade entre professor e aluno, na tentativa de encurtar distâncias e de manter o vínculo.
Com marcado profissionalismo, os professores evidenciam a sua dimensão humana e persistem em contrariar o rumo fatalista dos desligados, conectando-os, continuamente, às aprendizagens e ao coração.