O amor da esquerda pelo ensino privado

Ontem, o Jornal de Notícias estampou na primeira página uma foto de alunos muito bem alinhados numa sala de aulas moderna e o seguinte título: "Dispara procura por escolas privadas". Por muito que se propagandeie que houve uma resposta musculada do Estado com o ensino à distância e a tele-escola como consequência do encerramento das escolas em março, os pais e os alunos sabem que a escola pública fez o que pôde e o que sabia, mas o que fez foi muito pouco. No privado não correu tudo bem, mas a resposta foi incomparavelmente melhor. É por isso, e só por isso, que há milhares de encarregados e educação desesperados por colocarem os seus filhos no ensino privado. Vivem com medo que a pandemia nos force a todos a um novo confinamento e deixe os alunos do público entregues outra vez a um jogo de sorte e azar. A sorte de ter uma boa escola pública e um bom professor, empenhado em trabalhar no dobro para que os seus alunos não fiquem às escuras, também os há, ou o azar de terem meia dúzia de trabalhos para fazer sem professor capaz para ensinar à distância, o mais comum.

Não estou nada interessado em fazer a apologia do ensino privado, menos ainda por contraponto ao ensino público, e jamais alinharei em movimentos que preconizam a devolução de impostos (chamam-lhe cheque ensino) aos pais que escolhem a escola privada para os seus filhos. Se o fazem, como eu faço neste momento, devem pagar inteiramente do seu bolso essa opção, sem retirar meios absolutamente necessários à escola pública. Sou um defensor incondicional da escola pública, que tem de ser de qualidade para promover a igualdade de oportunidades e o que a escola precisa é de uma maior investimento e de um empenho redobrado dos seus profissionais.

É, por isso, verdadeiramente lamentável que o governo, de uma forma geral, e o Ministério da Educação, de forma muito particular, não tenham percebido nada do que se passou e não sejam capazes de transmitir confiança aos pais dos alunos. O que passa é mesmo uma sensação de total impotência, como se estivessem de mãos ao alto a rezar para que não seja preciso fechar as escolas outra vez.

No interior do jornal, a propósito da notícia que dá o mote para esta crónica, o título era "colégios privados sem mãos a medir para tanta procura" e Luís Aguiar-Conraria ( @LConraria ), no Twitter, sintetizava muito bem o que isto diz sobre quem tem responsabilidades. Passo a citar: "Parabéns a toda a equipa socialista do Ministério da Educação por este extraordinário resultado. A Fenprof também tem muito mérito neste resultado. Estão todos de parabéns". Fim de citação.

É, de facto, uma grande ironia que seja a esquerda a empurrar os alunos para o ensino privado.

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