Anunciado oficialmente a 11 de Agosto, foi a grande surpresa que saiu da Assembleia Geral da Confederação Africana de Futebol (CAF), realizada nessa semana na Tanzânia. A CAF e a FIFA, garantem tratar-se de um projecto completamente diferente do Europeu. 24 clubes de 16 países disputarão este campeonato, que verá 197 jogos disputados, entre Agosto e Maio de 2023/24. Porquê esta decisão agora e com apoio da FIFA?
Porque há muito que a FIFA quer implementar este modelo na União Europeia, mas a "Europa étnica" não o permite pela "clubite aguda" de que todos sofremos e porque o Santa Clara e "os Portimonenses de Portugal" e de outros países ficariam inevitavelmente fora deste grande circo que alimenta economicamente a "periferia desportiva" de cada país. Já agora, se houve "coisa" sensata que Santana Lopes disse sobre o futebol português, creio que ainda antes de ser Presidente do Sporting foi: "Faça-se um campeonato nacional só com 10 equipas e 3 voltas e teremos um campeonato verdadeiramente competitivo!" Quando cheguei ao café e partilhei a ideia com o entusiasmo de quem quer ver o Braga campeão o mais breve possível, um "Velho do Restelo com 20 anos" disse de imediato: "E aquele que ficar em 10º depois pode ser campeão nos play-offs! Na, na, na, isso não é ser competitivo, isso é batota!" E cá se vai andando com a cabeça entre as orelhas, cantava Sérgio Godinho!
Em conclusão, África servirá novamente de cobaia europeia, desta vez através do futebol. Resta dizer que o prémio para o campeão africano será de €9,5 milhões e que cada federação participante receberá 967 mil euros anuais, decorrente dos lucros, sob compromisso destas investirem também no futebol feminino, modalidade que muito tem contribuído para o empoderamento da mulher africana, quebrando assim o mito de modalidades exclusivamente masculinas. Força África, Mãe África!
Marrocos: Portugal no discurso do Rei
Celebrou-se, sábado 20, o 69º aniversário da Revolução do Rei e do Povo, efeméride que reforça a máxima de que um rei não é nada sem súbditos, da mesma forma que uma empresa não existe sem funcionários e que, para onde vai um vão todos. O Sahara em disputa com a POLISARIO tem sido o tema obrigatório do monarca nos discursos oficiais do último ano. No de sábado passado, a propósito do tema, a determinada altura Mohammed VI diz o seguinte: "Por outro lado, o posicionamento construtivo a propósito da iniciativa de autonomia (do Sahara em disputa) estabelecida, de certos países europeus como a Alemanha, Holanda, Portugal, Sérvia, Hungria, Chipre e Roménia, contribuirá para definir um novo marco nas relações de confiança com nações amigas e a reforçar o partenariado de qualidade que os liga ao nosso país".
Desconheço pormenores sobre alguma iniciativa que indique que Portugal mudará oficialmente a nossa posição relativamente a este conflito territorial de quase meio século, mas estas declarações antecipam, provavelmente, alguma decisão em bloco da União Europeia (UE) para breve. A lógica parece-me simples e vem, uma vez mais, ao arrepio dos ventos que sopram a partir da Ucrânia. A procura por fontes alternativas ao gás russo, colocou a Argélia no mapa dos fornecedores alternativos mais próximos da Europa, pelo que esta (a UE) deverá estar a colocar em cima da mesa um plano que também deverá incluir Sines, já que o Chanceler alemão Olaf Scholz já verbalizou querer um gasoduto com início em Portugal e fim na Europa Central. Ou seja, em cima da mesa deverá estar uma proposta de fornecimento exclusivo, logo milionário, de gás argelino à Europa, com a condição de um reconhecimento em bloco da UE do Sahara Marroquino e o princípio do fim definitivo desta herança colonial. Desta forma, também se condiciona e controla, sem aspas, um dos principais aliados russos em África.
Argélia em chamas
Tal como em Portugal, o Magrebe também passa todos os verões pelo calvário dos incêndios. Actualmente os fogos mais graves (20, na passada quarta e quinta-feira) ainda assolam todo o nordeste da Argélia. Até ao momento foram contabilizados 38 mortos e centenas de feridos. Com as mesmas limitações portuguesas em recursos humanos no combate às chamas (1.700 bombeiros para estes 20), bem como de falta de coordenação e ainda com as inerentes dificuldades de comunicações nas montanhas (falta de rede, com ou sem SIRESP), a polémica também se adensa relativamente aos meios aéreos. A gestão dos helicópteros e dos pilotos de serviço foi entregue à Qatar Helicopters e um contracto de aluguer de pequenos aviões espanhóis de combate a incêndios, que deveria ter começado no Primeiro de Julho foi anulado. Perante quase 40 mortos e todo o património destruído, a população inquieta-se perante esta gestão da coisa pública e começa a exigir respostas das autoridades. Lá, como cá, será normal que a culpa morra solteira. No final das contas, somos todos magrebinos!
A Acontecer / A Acompanhar
Não tendo qualquer actividade a anunciar, aproveito este espaço para assinalar os 607 anos da conquista de Ceuta pelos portugueses, que se celebraram no passado sábado 21 de Agosto. Esta data deveria ter ampla divulgação nacional e celebração conjunta entre Portugal e Marrocos. O que para nós foi a Batalha de Alcácer Quibir, para eles foi a "Batalha dos Três Reis", que em tudo decidiu os destinos da monarquia neste reino africano.
Raúl M. Braga Pires é autor do site Maghreb-Machrek, é Politólogo/Arabista e escreve de acordo com a antiga ortografia