Na Marinha Grande, o incidente ainda é lembrado por quem esteve e por quem não esteve presente nesse dia. Quanto aos mais novos, passa-lhes completamente ao lado.
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Mário Soares chega à Marinha Grande quando a cidade tinha à entrada uma placa indicativa que dizia "Moscovo". Terra com forte conotação política com o comunismo, o então candidato à presidência da República tinha sido avisado de que havia uma manifestação e de que corria perigo em visitar a fábrica dos Irmãos Stephens. Mesmo assim, insistiu e foi à Marinha Grande. Recebeu murros e uma paulada.
O portão junto ao qual Mário Soares foi agredido com murros e uma paulada dá hoje acesso à Escola Profissional e Artística da Marinha Grande, ao Museu do Vidro e à Biblioteca Municipal. Mesmo junto ao portão, Mário Moita lembra o dia em que esteve presente na manifestação. "Nós marinhenses estávamos com grandes dificuldades financeiras, não recebíamos salários, e então revoltou-se aqui a situação, em frente ao portão. Quem lhe deu não vi. Estava cá, mas a confusão era muita".
Mário Moita ainda hoje é vidreiro. Recorda anos seguidos de luta. "Nessa altura, eram as nossas grandes lutas por falta de salário. Mário Soares veio cá quando estávamos revoltados com a situação complicada aqui na Marinha Grande", acrescenta.
Já Gracinda Maria Neto, emocionou-se quando teve conhecimento da morte de Mário Soares. Não esteve no dia 14 de janeiro de 1986, mas recorda-se, quer do dia, quer do homem. "Recordo-me que havia muita gente à volta dele. Eu lamento a morte dele, porque ele era um homem popular, e que sabia aquilo que dizia e que fazia. Quando soube da morte dele, chorei".
Quem hoje frequenta o edifício que é escola e que na década de 90 deixou de ser uma fábrica de peças de vidro, nada sabe do incidente e pouco sabe sobre Mário Soares.
Em 1986, durante a campanha às eleições presidenciais, Mário Soares foi alvo da fúria dos trabalhadores da Marinha Grande, à porta da Fábrica Escola dos Irmãos Stephens, tendo sido alvo de murros e pancadas. O próprio Mário Soares descrevia a 14 de janeiro desse ano como tendo atingido "por um jovem, pelas costas", que lhe deu um murro "na cabeça, com bastante força", e logo depois terá levado uma paulada, tendo sido a agressão que "mais doeu".
Na altura, comitiva e jornalistas refugiaram-se no interior da fábrica até que os ânimos acalmassem. O então candidato visitava a fábrica porque o espaço tinha recebido incentivos do Estado. Incentivos que não terão impedido que a Fábrica Escola fechasse no início dos anos 90.